Em Petrópolis não houve carnaval por conta das enchentes que destruíram alguns bairros daqui. A frase que mais se usou foi “Tragédia cancela Carnaval”. Fiquei pensando na justaposição desses dois termos.
Tragédia é o choque de idéias opostas e indissolúveis. É chegar até a verdade mesmo que não seja a melhor verdade. Tragédia é entender a dimensão humana em contraposição com a dimensão natural ou social. Tragédia é entender o tempo, é entender a mudança do tempo e a mudança de tudo quando o tempo muda. É tanta coisa que contribui pra tragédia que é quase impossível que não se vivam tragédias diariamente, porque, no fundo, a tragédia é uma forma do mundo de buscar a paz, mesmo que com o aniquilamento de alguns.
Carnaval é o oposto disso. É a dissolução dessas forças e formas. Muitos teóricos dizem que no Carnaval se permite que o súdito se vista de rei e o rei de súdito e os dois juntos possam curtir uma festa quase fugaz, que dilata o tempo, esquecendo que ele passa. É pegar as forças naturais e deixa-las fluir, chegar um pouco pro canto pra enchente passar. Se chover a gente bebe água. Se fizer sol a gente se bronzeia. Ele não aniquila ninguém, só exclui quem se exclui e crime é tentar lutar contra alguma força.
Talvez por isso, não pude deixar de pensar que em Petrópolis deveria ter ocorrido o Carnaval, porque só ele é capaz de mostrar que uma tragédia destrói sonhos, enquanto que o carnaval os reconstrói, trazendo junto consigo a certeza de que é possível rirr mesmo sem haver graça nenhuma. O carnaval ignora tanto as forças opostas que é até capaz que as encostas se encostem, se fixem e descansem, enquanto que os foliões sorriam pra tragédia, sabendo que a força está dentro deles, porque eles também são aquela natureza.
O carnaval perdeu a chance de vencer a tragédia.
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