28 junho 2011

às duas

Uma sensação intraduzível, e não uso a palavra sentimento porque os sentimentos são falhos, frouxos, se esticam para lá e para cá sem qualquer razão, é a sensação das duas da manhã. Se eu pudesse dar um conselho à qualquer pessoa não seria ver o nascer ou o pôr-do-sol, dado o fato de que a natureza nos engana o pensamento, mas sim, deixar-se em casa sem pronunciar qualquer palavra a ver a noite chegar e depois a madrugada, até às duas da manhã. Se ao ponto nada acontecer, duvide de sua humanidade.
Às duas chega uma sensação que diria eu ser de mundo. Deixar-se ao tempo, à noite, mas não muito como às 4 da manhã, quase ao amanhecer, nem tão cedo à meia noite quando a maioria ainda descansa do cansativo dia.
Duas da manhã está entre lá e cá e forma uma espécie de zona de fronteira da madrugada. Tudo faz sofrer e nada é sofrimento. Tornamo-nos distantes das coisas, da realidade e vem-nos uma pulsão de vida. Nada quente, uma pulsão de vida como tomar um copo d´água ou ouvir uma história dos avós.
Todo os dias, às duas da manhã, tenho vontade de olhar para o céu e perguntar: "amigo, há quanto tempo estás por aí?"

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