“Jamais te odiei, a ti
e a nenhum dos teus.”
O Altíssimo para Mefisto
Fausto – Goethe
Dois homens
praticamente iguais estão sentados em uma mesa. A luz é baixa,
natural, apenas por dois abajures pendurados em outras duas mesinhas
uma em cada canto da cena. Ambos, ao centro, estão quase no escuro e
de cabeça baixa.
MEFISTO – Estou
aqui mais uma vez para dizer as coisas que sempre digo. Tudo vai mal,
eles ainda estão iguais insetos prontos pra serem esmagados, como
ganhafotos que destroem a plantação que comem. Na verdade, são os
piores que existem, mas não são tão culpados quanto parece. Eles
estão mais pra baratas tontas, perdidas, a procura de qualquer
pequena brecha.
DEUS – De novo, de
novo você! Só o que faz é vir aqui reclamar, sempre dizendo a
mesma coisa. Sabe que gosto que venha conversar, meus dias são
geralmente inúteis e parados. O marasmo toma conta de tudo que não
é convulso. Sabe que gosto de você e temos uma relação até
bastante boa, mas nunca tem nenhuma novidade, é sempre a mesma
ladainha. Quer dizer então que tudo vai pior?
MEFISTO – Pior
não. Nada piora, nada sabe nem piorar. É tudo conforme as coisas
sempre foram. O lugar é horrendo, um antro de tristeza, melancolia,
culpa, pressa, medo, roubo, arrombamentos.
DEUS – E como vai
aquele senhor?
MEFISTO – Qual?
DEUS – Aquele a
quem nada atinge.
MEFISTO – Corrompo
ele assim, num estalo. Aposto que ao mostra-lo a felicidade, a
tristeza é a primeira que se abate sobre ele. A tristeza da
felicidade.
DEUS – Fica com
ele pra você, pode ficar.
MEFISTO – Ok, vou
indo então.
DEUS – Aqui, sabe
que nunca te odiei, né?
MEFISTO – Sim,
senhor! Sempre vou saber.
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