26 junho 2012

Deus e o Diabo em Minuto


Jamais te odiei, a ti e a nenhum dos teus.”

O Altíssimo para Mefisto
Fausto – Goethe


Dois homens praticamente iguais estão sentados em uma mesa. A luz é baixa, natural, apenas por dois abajures pendurados em outras duas mesinhas uma em cada canto da cena. Ambos, ao centro, estão quase no escuro e de cabeça baixa.

MEFISTO – Estou aqui mais uma vez para dizer as coisas que sempre digo. Tudo vai mal, eles ainda estão iguais insetos prontos pra serem esmagados, como ganhafotos que destroem a plantação que comem. Na verdade, são os piores que existem, mas não são tão culpados quanto parece. Eles estão mais pra baratas tontas, perdidas, a procura de qualquer pequena brecha.
DEUS – De novo, de novo você! Só o que faz é vir aqui reclamar, sempre dizendo a mesma coisa. Sabe que gosto que venha conversar, meus dias são geralmente inúteis e parados. O marasmo toma conta de tudo que não é convulso. Sabe que gosto de você e temos uma relação até bastante boa, mas nunca tem nenhuma novidade, é sempre a mesma ladainha. Quer dizer então que tudo vai pior?
MEFISTO – Pior não. Nada piora, nada sabe nem piorar. É tudo conforme as coisas sempre foram. O lugar é horrendo, um antro de tristeza, melancolia, culpa, pressa, medo, roubo, arrombamentos.
DEUS – E como vai aquele senhor?
MEFISTO – Qual?
DEUS – Aquele a quem nada atinge.
MEFISTO – Corrompo ele assim, num estalo. Aposto que ao mostra-lo a felicidade, a tristeza é a primeira que se abate sobre ele. A tristeza da felicidade.
DEUS – Fica com ele pra você, pode ficar.
MEFISTO – Ok, vou indo então.
DEUS – Aqui, sabe que nunca te odiei, né?
MEFISTO – Sim, senhor! Sempre vou saber.

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