11 janeiro 2009

experiência

Ele já está claro na minha cabeça, só não ainda decidi se ele está de saída ou se já está voltando. Esse personagem é tão sutil na sua maneira de existir que eu acho que é uma mulher. Ela não pode se maquiar porque não agüentaria, por enquanto ousa apenas a vestir saias e mostras às vezes, ainda com alguma relutância parte das pernas, e justamente por isso, tem sempre um ar preocupado, um ar de estar sendo revelada pela alma, mas não está, as pernas só escondem a alma que poderia ter muito mais a dizer. Ela tem um passo firme, não usa saltos porque não precisa de elegância, não precisa de porte físico, tem apenas uma doçura simples que se esforça muito para transformar em charme: quase sempre consegue e se sente realizada, mas numas poucas vezes joga olhares tristes para o alto, como se nada disso estivesse a valer a pena.
Ela agora está sentada na cama decidindo o que fazer de seu dia. É domingo e tudo será uma questão de escolha. Pode investir na vida social, chamar umas pessoas não muito próximas pra sair e aproveitar pra refinar novas amizades, pode ficar em casa e curtir a solidão que esperava pela semana toda, mas tem medo de que ela se transforme num vazio, num monstro que lhe persiga nesse dia de sol. Ela pode ainda reunir os amigos para uma conversa descontraída ou qualquer coisa do tipo. Ela não está pensando em amor, mas está pensando que precisa amar, amar e ter controle. Ela quer esse poder, de controlar as coisas se assim o quiser.
Decidiu dar um toque em alguns celulares sem deixar que ninguém atendesse e sair para um passeio sozinha pelo parque. Gostaria de olhar os casais brincando com seus filhos, sentir o cheiro de pipoca, de algodão doce e rir da velocidade da bicicleta dos meninos já crescidos apostando corrida. Se alguém ligasse ela atenderia e aceitaria qualquer programa, sairia e teria um domingo contente, era só disso que ela precisava. Se tivesse um diário, não escreveria hoje, porque na verdade as coisas agora pouco importavam, que se pensasse depois, por enquanto era hora de estar a viver e ainda havia tanto para aprender. O nome dela era saudade, mas ela ainda não poderia saber.

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