24 julho 2009
dar valor
Sempre ouço dizer que é preciso "dar valor" às coisas. Dar valor à mãe, dar valor à comida, ao dinheiro, ao amor, às pequenas coisas da vida, à saúde, a poder viajar todo final do ano, ao acordar, mijar e não doer, ao sair e voltar de casa, ao emprego, ao carro, às férias, aos domingos, à namorada. Enfim, seria preciso dar valor a quase tudo que se tem, porque não dar valor seria ser ingrato e precipitar um futuro onde não se terá. Pra mim isso sempre soou meio como bobagem porque só se diz para se dar valor áquilo que não se valoriza. Quanto mais se diz para valorizar, menos valorizado é. Porque dar valor é dizer que algo merece algo que não tem, mas deveria ter, no entanto quem será que deve dizer aquilo que devemos ser gratos? Não seria a gente? E dizer que valorizo não é muito diferente de valorizar? Muito vão dizer: "só se dá valor quando perde", o que para mim é exatamente o contrário: quando se perde se percebe o valor que havia e que não há mais, há um vazio zero, logo o vazio não está na falta de valor, mas na necessidade de preencher o vazio com outro valor que nunca poderá ser aquele. Cada valor é único e nada pode mudar. O que me volta àquela eterna resposta: só uma coisa explica a própria coisa. Só se valoriza a mãe, quando se está com a mãe, quando se escolhe estar, só se valoriza a saúde quando se corre pela rua e chega feliz e não cansado, só se valoriza às férias curtindo todo dia, dormindo muito e se possível viajando. Dar valor é então fazer aquilo que se faz, falar aquilo que se fala, comer aquilo que se come e dormir aquilo que se dorme, ao invés de falar quando se está com fome, dormir quando se quer falar, fazer quando se quiser comer, etc. Viver é viver, encher o saco é encher o saco, escrever é escrever. Por isso sempre valorize ao dar valor, mas nunca diga que se valoriza o outro, porque o valor está nele mesmo, assim como cada coisa...
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