Quero falar do Natal. Um ímpeto não dos mais felizes me fez vir aqui e querer dizer sobre o Natal. O próximo passo foi pensar que não há porque falar de melancolia ou de tristeza, nem daquilo que está errado no Natal, porque, na verdade, com ele não há nada errado. O erro está em todo resto.
Então preferi falar de outros natais, os natais menores, pequenos, micronatais que existem dentro desse gigante Natal que quase nos oprime. Falo desse natalzinho muito pouco quase nada que nos perpassa muitas vezes e se não estivermos atentos, podemos perde-lo.
Por exemplo, o Natal de sentar no chão. Ganhar um presente e sentar no chão pra abrir é Natal pra mim. Aquela sensação de que se pode ficar torto e do olho se fixando num saco colorido. Dura segundos, mas segundos tão marcantes e tão fortes que se penso muito tempo neles, sou capaz até de talvez sorrir. Ou então o Natal dos embrulhos de presente espalhados: aqueles papéis, semi rasgados, coloridos, bregas, com desenhinhos que você nunca repara, jogados ali num canto da cama enquanto você dá uma volta pela sala pra pegar uma castanha.
O Natal de um bilhetinho, de um cartinha que você recebeu. Tente ler um papelzinho que você ganhou no passado e talvez nem tenha dado tanto valor. Leia agora e veja o valor que ele tem. Não chore, nunca há motivos pras lágrimas, mas leia. Esse sentimentinho pequeno é insubstituível e não há dor no mundo capaz vence-lo.
O Natal da melhora. O Natal de uma doença que se foi e você quase não lembra, a não ser por alguns sintomas que aparecem aqui e acolá e um certo medo de sofrer o sofrido e de viver o não vivido. O Natal potencializa isso, porque potencializa a vida. Mas isso não é grande, é pequeno e quase escapa do espírito natalino.
E poderia falar mais, falar do Natal dos cheiros, dos gostos, das árvores, das luzes, do vinho, o Natal de muitas coisas que existem e sempre nos escapam.
O problema do Natal é que é sempre um momento de saudade. Sempre temos saudades do que vivemos, do que estamos vivendo e é certo que temos saudades também do que há de vir.
Bom Natal pra quem sobreviveu...
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