eu queria fazer um texto com dois objetivos: 1 - falar sobre o tempo. 2- ser capaz de fazer chorar. Então peço que quem me ler que coloque ao fundo a canção "videotape" do radiohead. O link está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=eNY3zTWDs9s
O tempo é bruto, é violento, único, mas apesar disso a vida funciona em videotape, funciona com um tempo visceral, caótico e não poético sendo incidido por vários momentos de nossa vida ao mesmo tempo. Sou capaz de estar em três ou quatro momentos agora, um aqui de short, sem camisa, banho tomado, cabelo ainda não penteado, outro na cama curtindo um momento de romance, nas horas que o eu te amo escapa entre suspiros, um outro passeando na praia com meus pais num dia em que saí de mãos dadas com minha mãe sem ter vergonha de o fazer e um outro em que sofrendo fui sozinho ao cinema e assisti um filme que me faz cair lágrimas tão pesadas que doíam pelo meu corpo. E estando nesses quatro lugares tenho saudades de todos, menos do de agora. Isso é o tempo.
O videotape não reprisa nada, ele reencena a vida, reescreve o mundo, reestrutura as palavras, os gestos e os sentimentos. Não há nada que não seja novidade e o tempo faz questão de que isso apareça a todo instante como um reflexo no espelho que se mexe e se mexe e se mexe, às vezes sem nem a gente saber que ele vai se mexer.
O choro. O choro e o tempo. Só o tempo é capaz de fazer chorar. Tem aquele primeiro choro, de emergência, o choro que te toma, que dá um sopapo na tua cara e você adora se jogar e deitar no outro da pessoa que te faz chorar pensando que queria morrer ali chorando, mas nunca perder a capacidade do choro. Tem o segundo choro, aquele distante, lágrimas por ninguém, diz hebert, cry for no one, dizem os beatles. Choro antigo, passado no século passado nas nossas vidas, mas que quando a gente senta e lembra, dos 4 momentos, juntos, os tempos todos, ele vem quase como um cansaço, e descansa, alcança a gente antes do fim do mundo e libera a paz.
O ano começa e com ele várias boas coisas, novas esperanças, novos jeitos de ver o mundo. Mentira. Sei lá, também, sei lá. É bom dizer sei lá, porque às vezes, né? Sei lá. Eu sei do choro e do tempo. Choro muito menos do que deveria, vivo muito menos o tempo como deveria. Uma chuva me prende em casa. Acho que esse final de texto está como eu gostaria, parado, preso no sem fim da linguagem, onde se abriga de um lado a escrita, forjando um tempo e as lágrimas presas em algum lugar de mim que nem sei. Ou sei. Sei lá. Que a vida seja um eterno videotape de novas imagens. Que o passado seja em tempo real.
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