Quando a gente fica um tempo sem um abraço, sem uma palavra mais doce, sem uma gentileza, sem um gesto carinhoso, fica na pele aquela coisa, aquele ranço, como se, aos poucos, os braços fossem enferrujando e perdendo a elasticidade, assim como se as palavras, sufocadas, ficassem mais duras e densas, e como se os gestos se tornassem mais pesados e frios.
É que o corpo se desacostuma ao outro, ou melhor se acostuma ao não-outro. Se perde em si mesmo, por dentro de si e tudo que se percebe ou se sente é aquilo que ele mesmo, amputado, não faz. A impossibilidade de nosso corpo em ser livre em relação ao outro faz dele um aleijado, um doente, um menino carente à espera da mãe. E a gente, dono do nosso corpo, vira orfão junto com ele.
Quando se deita, o corpo encontra o colchão. Vê nele uma companhia e um afago que essa noite, mais uma vez, não tem e não vem.
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