Li o conto. Ao fim, a primeira coisa que pensei foi: a palavra conto pode ter a ver com contato. E um contato singular, único, que só um contar pode conter. Depois, menos otimista, pensei que Júpiter e Saturno nunca podem se encontrar, que isso é impossível. Mas acabou que entendi o que você quis me dizer. É a gente no mundo tentando desesperadamente e dialeticamente, posto que com todo cuidado, se encontrar, pelo menos um pouquinho, no outro.
Me parece, e os fatos provaram iso, que é possível. Isso não é otimismo nem pessimismo, é um fato, histórico e merece fazer parte de livros, enciclopédias e biografias.
Li o conto e pensei: espero que agora você não precise mais dele.
31 julho 2012
29 julho 2012
o olhar dela
Estava distraído na rua quando lhe veio na cabeça a frase:
- nunca olhei pro olhar dela.
Desencadeou-se, então, uma série de pensamentos que não quis controlar. Nunca olhou porque nunca a viu; porque nunca prestou atenção; porque o olhar dela é escorregadio; porque o olhar dela demandava tempo demasiado pra ser olhado; porque seus olhos ainda não estavam prontos pro dela...
E as perguntas se sucediam enquanto pensava o tempo todo no rosto dela, mas com dois buracos fundos no lugar do olhar. Não saberia como preencher esse vazio.
Foi quando percebeu entre os belos quadris, cabelos, gestos e simulações de prazer de meninas que passavam que tal sucedia porque devia ser assim:
O olhar dela (e só o dela) era daquelas poucas coisas na vida que só se pode olhar uma vez. E depois de olhado nada mais é o mesmo, tudo é diferente. Aquele novo olhar se torna seu lar.
- nunca olhei pro olhar dela.
Desencadeou-se, então, uma série de pensamentos que não quis controlar. Nunca olhou porque nunca a viu; porque nunca prestou atenção; porque o olhar dela é escorregadio; porque o olhar dela demandava tempo demasiado pra ser olhado; porque seus olhos ainda não estavam prontos pro dela...
E as perguntas se sucediam enquanto pensava o tempo todo no rosto dela, mas com dois buracos fundos no lugar do olhar. Não saberia como preencher esse vazio.
Foi quando percebeu entre os belos quadris, cabelos, gestos e simulações de prazer de meninas que passavam que tal sucedia porque devia ser assim:
O olhar dela (e só o dela) era daquelas poucas coisas na vida que só se pode olhar uma vez. E depois de olhado nada mais é o mesmo, tudo é diferente. Aquele novo olhar se torna seu lar.
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28 julho 2012
férias e carnaval
Esse é o maior segredo da vida: a vida não tem segredo nenhum. Está tudo aí posto e a gente só precisa ver o que é, o que quer e o que tem. Bobagem é achar que existe alguma coisa por trás, alguma coisa pelas entrelinhas que precisamos descobrir. Nada disso é verdade, nenhum de nós é capaz de fuçar pelo que não existe e querer achar nos lixos as soluções pro mundo. Sorte é ser capaz de perceber isso e viver como se todo dia fosse um dia qualquer entre as férias e o carnaval.
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25 julho 2012
dito
escrever acumula.
e nada conserta a primeira palavra,
nem a segunda e nem a última.
e a gente vai precisando escrever cada vez mais
pra dizer alguma coisa
pra desdizer outra
pra redizer tudo o que já foi dito.
e nunca mais ninguém vai poder ouvir
essas palavras novamente
em paz.
e nada conserta a primeira palavra,
nem a segunda e nem a última.
e a gente vai precisando escrever cada vez mais
pra dizer alguma coisa
pra desdizer outra
pra redizer tudo o que já foi dito.
e nunca mais ninguém vai poder ouvir
essas palavras novamente
em paz.
23 julho 2012
se fosse pra saber
Algumas coisas na vida acontecem e são tão inesperadas que às vezes fica a impressão de que o mundo faz sentido. Não nos enganemos: não faz. Hamlet dizia que "há mais coisas entre o céu e a terra do que julga a filosofia." Alguns leem isso como uma ode à metafísica, mas não é. Na verdade, é uma ode ao desconhecido, ao não navegado. Uma ode às possibilidades infinitas que a vida nos proporciona.
E o engano está em: Não é uma ode à vida. Essa alegria coletiva de que a vida é o máximo carpe diem, uhul, aproveitemos todos, é uma bobagem tão grande que só engana mesmo a quem quer ser enganado. Muitos querem.
Quando resolvo escrever uma peça chamada Shuffle sobre um Ipod e a relação com um cara, acho que é isso que quero dizer, embora ainda não tenha descoberto o que, exatamente. Existe algo na gente que é inexplorado, uma imensa América não descoberta por ninguém e que, como uma caverna escura, nos assusta e nos faz ficar repetindo eternamente o óbvio.
Aos poucos vou tentando entender aquilo que nem eu mesmo sei e aos poucos vou dizendo aquilo que não tenho a melhor ideia do que é. Se fosse pra saber, eu saberia.
E o engano está em: Não é uma ode à vida. Essa alegria coletiva de que a vida é o máximo carpe diem, uhul, aproveitemos todos, é uma bobagem tão grande que só engana mesmo a quem quer ser enganado. Muitos querem.
Quando resolvo escrever uma peça chamada Shuffle sobre um Ipod e a relação com um cara, acho que é isso que quero dizer, embora ainda não tenha descoberto o que, exatamente. Existe algo na gente que é inexplorado, uma imensa América não descoberta por ninguém e que, como uma caverna escura, nos assusta e nos faz ficar repetindo eternamente o óbvio.
Aos poucos vou tentando entender aquilo que nem eu mesmo sei e aos poucos vou dizendo aquilo que não tenho a melhor ideia do que é. Se fosse pra saber, eu saberia.
19 julho 2012
cama, mesa e banho
na loja
comprei roupas de cama, mesa e banho.
um luxo de tanta coisa...
tanta pompa, tanto pano.
quando chegou a hora
dormi sozinho
com fome
e sujo.
comprei roupas de cama, mesa e banho.
um luxo de tanta coisa...
tanta pompa, tanto pano.
quando chegou a hora
dormi sozinho
com fome
e sujo.
16 julho 2012
sob escombros
Uma pessoa está sob escombros. Desabou tudo que havia e, parece, até algumas coisas que não havia antes. Está tudo empoeirado e a pessoa não sabe onde está, mas sabe que está embaixo embaixo embaixo e mais embaixo. Na verdade está mais embaixo do que pode imaginar.
Ela é importante?
É.
Por que?
Porque está sob escombros.
Imagina ela do lado de fora, bonita e penteada, faceira e divertida.
Assim ela vale?
Pouco.
Pouco?
Quase nada.
Ela só vale porque está sob escombros, porque naquele momento ela é a coisa mais importante que existe e retira-la de lá é a obrigação máxima de todos nós.
Ela grita?
Grita.
O que?
Palavras.
Que palavras?
Não dá pra ouvir.
Não adianta, não adianta, é impossível mostrar essa pessoa sem mostrar os escombros. Ela só existe do jeito que existe e eu só falo dela porque está sob escombros.
Ela é importante?
É.
Por que?
Porque está sob escombros.
Imagina ela do lado de fora, bonita e penteada, faceira e divertida.
Assim ela vale?
Pouco.
Pouco?
Quase nada.
Ela só vale porque está sob escombros, porque naquele momento ela é a coisa mais importante que existe e retira-la de lá é a obrigação máxima de todos nós.
Ela grita?
Grita.
O que?
Palavras.
Que palavras?
Não dá pra ouvir.
Não adianta, não adianta, é impossível mostrar essa pessoa sem mostrar os escombros. Ela só existe do jeito que existe e eu só falo dela porque está sob escombros.
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soterrada
11 julho 2012
cazuza
fazer poesia como se você ia achar um saco?
aposto que ia pedir pra eu te pegar um uísque
citar um bukowski,
pegar o violão e tocar um doors
e sair pelo leblon xingando os bunda-moles.
as pedras do arpoados iam servir de bungee jumping
pros nossos sonhos mais cretinos
e pros anseios mais baixos:
muito corpo e nenhuma alma.
nenhum beija-flor no seu Rio de Janeiro
nenhum cristo redentor as 7 da manhã na janela.
nenhum pensamento que não fosse
o de fazer de hoje
mais um dia sem fim.
aposto que ia pedir pra eu te pegar um uísque
citar um bukowski,
pegar o violão e tocar um doors
e sair pelo leblon xingando os bunda-moles.
as pedras do arpoados iam servir de bungee jumping
pros nossos sonhos mais cretinos
e pros anseios mais baixos:
muito corpo e nenhuma alma.
nenhum beija-flor no seu Rio de Janeiro
nenhum cristo redentor as 7 da manhã na janela.
nenhum pensamento que não fosse
o de fazer de hoje
mais um dia sem fim.
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morte,
poesia,
rio de janeiro
Top 5 twittadas I:
1- Vê Transformers em 3D, mas não gosta de ficar bêbado.
2- O Anderson Silva é o filho de quem tá embaixo.
3- Se a mulher tá grávida e tem um filho no estacionamento, ela tem parkinson?
4- O Wagner Montes falou que tem só 40 anos! Só se for em cada perna... Ops.
5- Ah, então o cara que substituirá o Demóstenes é ex da atual mulher do Cachoeira? Sabia, é tudo farinha da mesma vagina.
2- O Anderson Silva é o filho de quem tá embaixo.
3- Se a mulher tá grávida e tem um filho no estacionamento, ela tem parkinson?
4- O Wagner Montes falou que tem só 40 anos! Só se for em cada perna... Ops.
5- Ah, então o cara que substituirá o Demóstenes é ex da atual mulher do Cachoeira? Sabia, é tudo farinha da mesma vagina.
09 julho 2012
a força da natureza
Eu não entendo muito das coisas. Não
sei quase nada do mundo, a não ser aquilo que aprendi contemplando,
e não compreendo muito as regas do jogo da vida. Não tenho
experiência das coisas, não sei o que é morar em vários lugares,
não sei o que tem do outro lado da fronteira, não sei o que fazer
quando, perdido, fico sem muitas opções e não sei como me portar
afetivamente sem parecer idiota. E cada vez que penso nessas coisas,
respondo pra mim mesmo: não sei.
É aí que eu percebo que você sabe. E
não só sabe que faz de tudo isso corpo, matéria, que emana de
dentro de si pra fora, como se a superfície fosse o que de mais
profundo houvesse, como se a margem de um rio tivesse uns 20, 30
metros de profundidade e conforme se nada, fosse diminuindo, até que
no meio, há 3 kms de distância, percebêssemos que a água está no
joelho e já se pode descansar. O pior de tudo é que eu escrevo
sobre algo que você já sabe e que eu não precisava dizer, mas digo
como para aprender a ser um bocado você.
É que acho que pra você as coisas não
tem fronteira, não tem margem, não tem traços, não tem contornos.
É tudo mesmo misturado nessa massa informe, disforme e caótica que
é o mundo e, portanto, viajar, comprar um brioche, ajudar um
cachorro e encher a cara são pequenas partes de um todo que lhe
compõe. Não existe mesmo em você, ou existe no nível mínimo, a
separação entre homem e natureza: você em contato com o mundo é
uma dessas forças de trajeto nômade e de composição quase etérea.
Assim, há um fascínio do
indescritível, do inefável, do não verbalizado, de outra dimensão
em tudo que faz parte de si. E isso me encanta. Por isso que de um
jeito meio tosco escrevo essas palavras frouxas que nem sei pra onde
estão indo. Talvez sejam sem forma, talvez sejam uma celebração. É
que talvez, no seu aniversário, também seja um pouco o dia dos bons
pensamentos, dos sorrisos e daquilo que com toda força podemos
chamar de natureza.
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natureza
01 julho 2012
bat-beg
eu vi um menino pequeno, pretinho,
sem camisa, short maior que ele
pé no chão, triste,
dedo na boca
e na outra mão um bat-beg
quebrado,
só tinha uma bolinha
verde
e ele brincava com o bat-beg
na parede
parecia ser o mestre
do bat-beg na parede.
e era
o único
campeão mundial.
sem camisa, short maior que ele
pé no chão, triste,
dedo na boca
e na outra mão um bat-beg
quebrado,
só tinha uma bolinha
verde
e ele brincava com o bat-beg
na parede
parecia ser o mestre
do bat-beg na parede.
e era
o único
campeão mundial.
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