um poema como um segredo:
um enigma a mostra
ou um espelho meio tampado
num desejo desperto de dar sentido em palavras
àquilo que se viveu na vida
o largo do machado nunca foi tão feliz
e nunca falou tanto, de mãos dadas,
pelas caminhadas nos caminhos da cidade
onde chamar de namorada é uma bobagem pra gente
mas dizer pros outros me faz encher a boca
que saliva seu nome com as mesmas letras que o meu.
as vistas, os videos e as músicas
como pano de fundo para algo urgente
não souberam, também,
o que se passava conosco:
dois corpos, frente a frente,
pernas cruzadas, olho no olho
um mão que encosta no braço
uma outra pendurada no queixo
ou arrumando o cabelo atrás da orelha
um comentário qualquer:
seu olho é bonito
você é linda
posso te esconder no armário?
e a cidade inteira em volta sumindo
o largo do machado vazio
podia tudo explodir
ou congelar
que aqueles corpos,
frente a frente,
sequer se dariam conta
pois de tudo que se passava
só percebiam o tempo que não volta
e a ida
inevitável
esse poema
claro enigma de amor
segredo escondido para todos lerem
está posto no mundo
não como um presente
mas como uma benção
uma lembrança
algo que sei e sabe
que podemos recorrer sempre que quisermos lembrar de uma coisa qualquer
esse poema agora é também seu
e reflete nas minhas palavras
seus olhos
e os olhos de todos que lerem
a pergunta, única,
é apenas uma:
quando você vai ler isso?
e quando você ler, o que você vai fazer?
a história toda é sua...e com você.
16 setembro 2014
Quando ela vai ler isso?
05 setembro 2014
conjugado
Dei a volta em meu conjugado como quem mergulha no abismo do mundo
E esperei
Como quem espera que as paredes se abram como as latas, as gueixas e sésamo
E percebe que tudo podia ser tal qual num baile infestado de baratas
Em que as pernas mal tocam o chão
E se enfurnam em outras pernas que sobem até os ventres
E se misturam com seios e braços chegando até o nível de uma cabeça ausente
Espero nessa ausência do conjugado mergulhado no abismo do mundo
Que a espera não seja mais do que isso:
Sentar, e nada tocando o nada até que ele seja o mais importante
O nada que sobra e salva
Por isso, sempre que possível, olhar para o conjugado
Não como um lugar pequeno de falta
Mas como excesso, e concentração, e síntese
Como as pinceladas grossas de van gogh ou as estocadas certeiras de um ator pornô.
Plano:
Encontrar em um filme do cine íris luis capucho cantando aids
E ver nas portas das igrejas mais umbrais que santos, mais velhas que velas, mais shorts que shots
Encontrar nos bancos dos largos do machado não aqueles que te assaltam porque eles se escondem pelas avenidas imensas e você sequer sabe se eles existem
Fazer amizade com a moça da barraca de cachorro quente sem sequer ter comido um cachorro quente lá
E estar mais próximo dela porque é a única que vende cerveja na porra das duas da manhã durante a semana
E quando o flamengo ganha é preciso uma cerveja sentado naqueles bancos
Conversando com algum paraíba e alguma gringa (porque todo cachorro quente tem um paraíba e uma gringa, ambos igualmente sedutores)
Por fim na espera e na volta do conjugado
Que me leva ao passeio pelo meu bairro – o único que existe – porque ainda conjugado
Encontrar a espera de repetir tudo isso num loop infinito de coisas que ninguém nunca entende quem sou o que faço
Nossa, aquele baixinho legal engraçado bêbado que faz teatro todo mundo conhece parece legal sei lá
Deixar que a cerveja defina enquanto não encontro nada melhor
A poesia quase sempre me cansa a cabeça
E o mundo não é encantado
Hamlet estava errado
O jogo é meu
E Conjugado.
E esperei
Como quem espera que as paredes se abram como as latas, as gueixas e sésamo
E percebe que tudo podia ser tal qual num baile infestado de baratas
Em que as pernas mal tocam o chão
E se enfurnam em outras pernas que sobem até os ventres
E se misturam com seios e braços chegando até o nível de uma cabeça ausente
Espero nessa ausência do conjugado mergulhado no abismo do mundo
Que a espera não seja mais do que isso:
Sentar, e nada tocando o nada até que ele seja o mais importante
O nada que sobra e salva
Por isso, sempre que possível, olhar para o conjugado
Não como um lugar pequeno de falta
Mas como excesso, e concentração, e síntese
Como as pinceladas grossas de van gogh ou as estocadas certeiras de um ator pornô.
Plano:
Encontrar em um filme do cine íris luis capucho cantando aids
E ver nas portas das igrejas mais umbrais que santos, mais velhas que velas, mais shorts que shots
Encontrar nos bancos dos largos do machado não aqueles que te assaltam porque eles se escondem pelas avenidas imensas e você sequer sabe se eles existem
Fazer amizade com a moça da barraca de cachorro quente sem sequer ter comido um cachorro quente lá
E estar mais próximo dela porque é a única que vende cerveja na porra das duas da manhã durante a semana
E quando o flamengo ganha é preciso uma cerveja sentado naqueles bancos
Conversando com algum paraíba e alguma gringa (porque todo cachorro quente tem um paraíba e uma gringa, ambos igualmente sedutores)
Por fim na espera e na volta do conjugado
Que me leva ao passeio pelo meu bairro – o único que existe – porque ainda conjugado
Encontrar a espera de repetir tudo isso num loop infinito de coisas que ninguém nunca entende quem sou o que faço
Nossa, aquele baixinho legal engraçado bêbado que faz teatro todo mundo conhece parece legal sei lá
Deixar que a cerveja defina enquanto não encontro nada melhor
A poesia quase sempre me cansa a cabeça
E o mundo não é encantado
Hamlet estava errado
O jogo é meu
E Conjugado.
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03 agosto 2014
Reflexões sobre a pasta de dente
Quando eu era criança, a grande propaganda feita em relação
as pastas de dente era: TEM FLÚOR. Ter flúor era tipo ter um exército de
gladiadores que atacavam as bactérias do seu dente e faziam ele ser saudável.
Depois foram lançando outras pastas com dupla proteção que
limpavam e protegiam e que se recomendava usar com uma escova específica que
tinha cerdas de um jeito que limpava de três maneiras que iam “muito mais fundo
no dente”.
Hoje em dia a frescura é geral. A minha pasta de dente tem:
tripla ação protetora, ação clareadora, prevenção contra sensibilidade, além de evitar três vezes mais cárie que a comum e tem até vitaminas que mantém o dente mais
saudável. Sim, minha pasta tem vitamina. É como se ela fosse uma mistura de
Sustagen com Biotônico Fontoura.
Isto me lembra uma coisa que sempre me inquietou. Já viram
aquela propaganda de “três a cada quatro médicos recomendam tal pasta de dente”.
Ok, três a cada quatro, mas...e esse um que não recomenda? Quais os motivos ele tem para não recomendar? O que faz ele ter essa escolha.
E mais: Quem ele é? Onde vive? O que faz? Será que ele é tipo excluído da galera dos dentistas por recomendar outra pasta? Pobre um dentista que vive solitário e sofre bullying no sindicato por ser minoria. Ou será que esse um tem outra galera da pasta de dente? Tipo, “sou da facção Sorriso, não da facção Colgate.”
E mais: Quem ele é? Onde vive? O que faz? Será que ele é tipo excluído da galera dos dentistas por recomendar outra pasta? Pobre um dentista que vive solitário e sofre bullying no sindicato por ser minoria. Ou será que esse um tem outra galera da pasta de dente? Tipo, “sou da facção Sorriso, não da facção Colgate.”
Enfim, essas coisas sempre me inquietaram. O fato é que não
é tão simples falar de pasta de dente...mas é melhor que escovar.
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10 junho 2014
lembrete
lembrete:
você nunca
compra
a coisa.
você compra o medo
de te levarem
a coisa comprada.
você nunca
compra
a coisa.
você compra o medo
de te levarem
a coisa comprada.
intensivo
Me ensino todo dia
no meu curso intensivo de vidoesia
tudo que preciso
pra ser um poeta de verdade:
me ensino a imitar,
me ensino a esquecer,
me ensino a caducar.
no dia da formatura,
marcada para um dia
que talvez nunca chegará,
vou receber meu diploma
de analfabeto,
bêbado,
desmemoriado
e sem rumo na vida.
sem traço
sem medo
sem língua
vou correr o risco
de ir pra rua
poetizar.
no meu curso intensivo de vidoesia
tudo que preciso
pra ser um poeta de verdade:
me ensino a imitar,
me ensino a esquecer,
me ensino a caducar.
no dia da formatura,
marcada para um dia
que talvez nunca chegará,
vou receber meu diploma
de analfabeto,
bêbado,
desmemoriado
e sem rumo na vida.
sem traço
sem medo
sem língua
vou correr o risco
de ir pra rua
poetizar.
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27 maio 2014
silêncio
sempre que me pede silêncio,
obedeço:
não sei
mas sempre pensei
que o silêncio que me pede
é sempre mais seu
do que meu.
obedeço:
não sei
mas sempre pensei
que o silêncio que me pede
é sempre mais seu
do que meu.
06 abril 2014
traição
Se você faz poesias sobre relacionamentos
por favor
para.
escrever sobre outro
no fim das contas
é trair a palavra.
por favor
para.
escrever sobre outro
no fim das contas
é trair a palavra.
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traição
20 março 2014
estalo
faz poesia com estilo
mas
cê sabe
poesia é estalo.
mas
cê sabe
poesia é estalo.
13 março 2014
matos
quero passear no abismo do meu umbigo
até o limite máximo
do poço fundo de mim.
o que me dói
- sem dor e sem doer -
é que a pureza é imbecil
a virilidade é agressiva
a energia é entrópica
e o jardim
é sempre um amontado de matos
de cor.
até o limite máximo
do poço fundo de mim.
o que me dói
- sem dor e sem doer -
é que a pureza é imbecil
a virilidade é agressiva
a energia é entrópica
e o jardim
é sempre um amontado de matos
de cor.
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vida
19 fevereiro 2014
o justo
o cara era justo -
tão justo -
que como calça justa
não entrava mais
em lugar nenhum.
o jeito foi ser justo de fora.
tão justo -
que como calça justa
não entrava mais
em lugar nenhum.
o jeito foi ser justo de fora.
Dona Meiga
A Dona Meiga
negra
velha
pobre
dorme no ônibus -
duas horas pra ir
duas horas pra voltar
do trabalho.
Como privilégio neste mundo
só uma coisa
- força de lei -
ter um acento preferencial
que é onde ficam os velhos
os inválidos
as sobras
que de tão sobras
ganham um acento especial
para sentar e
- duas horas pra lá
duas horas pra cá -
esperar.
negra
velha
pobre
dorme no ônibus -
duas horas pra ir
duas horas pra voltar
do trabalho.
Como privilégio neste mundo
só uma coisa
- força de lei -
ter um acento preferencial
que é onde ficam os velhos
os inválidos
as sobras
que de tão sobras
ganham um acento especial
para sentar e
- duas horas pra lá
duas horas pra cá -
esperar.
05 fevereiro 2014
a bola
uma bola eufórica rola sobre os paralelepípedos gramados da rua
enquanto um cachorro geme uma fome desconhecida
de uma prisão que entorpece não seu instintos,
mas sua sede.
a vida corre como a bola
e late.
enquanto um cachorro geme uma fome desconhecida
de uma prisão que entorpece não seu instintos,
mas sua sede.
a vida corre como a bola
e late.
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