Em nossa última aula, uma coisa
que me chamou atenção foi o fato de que tivemos contato com outros
modos de educação a partir de vídeos filmes, ou seja, tecnologias
audiovisuais, algumas delas mantidas em redes sociais como o Youtube.
Sei que esta constatação parece banal, dado o título de nosso
curso e sei também que esta talvez não seja a principal mídia ou
forma de propor ou propagar modos outros de se fazer educação.
Entretanto, percebi que, de certa forma, há uma relação estreita
entre educação e o audiovisual, tanto em programas institucionais,
como em documentários e até filmes de ficção a respeito do tema.
Acho que isto tem muito a dizer sobre o próprio tema.
A primeira pergunta que me faço
é: como o audiovisual trata a educação? E a partir disso faço uma
série de questionamentos: É possível dizer que, de um lado, modos
ditos alternativos de educação são tratados com certo exotismo, ou
seja, como se fosse uma particularidade de um local, de um povo, de
um grupo ou da ideia genial de um sujeito em determinado espaço? Se
sim, é possível concluir disso que, nesta trilha, esta educação,
apesar de revolucionária e que poderia dar outros tons a educação
no mundo, acaba por ficar restrita? Refaço a pergunta: Será que,
com todas as boas intenções e com as boas ideias, algumas dessas
obras, não tratam outras formas de educação como “revolucionárias”
e, portanto, coisas distantes, da ordem da utopia – aquilo que é
sem lugar – ao invés de tratarem como políticas públicas
possíveis e ao alcance de cada um?
A outra pergunta que me faço é
se, por outro lado, o cinema americano, de cunho obviamente
capitalista, embora este termo precisa, sempre, sempre ser melhor
explicado, além da visão pautada no indivíduo, não tratou de
fazer a educação como o lugar de refazer o desacerto? Tento me
explicar: há uma tradição do cinema americano que povoa o
imaginário de pessoas ao redor do mundo cuja trama gira em torno de:
uma turma tem uma série de problemas, são desordeiros, grosseiros e
não dão atenção a educação. Eles depredam o espaço público e
expulsam um a um todos os professores, até que chega, de repente, um
professor ou professora que, aos poucos conquista e faz surgir “o
lado bom” dessas pessoas. “O lado justo”. “O lado humano”.
Será que não há neste cinema, me pergunto: a tentativa deliberada
de dizer que a educação não é um projeto coletivo, ou seja, não
faz parte de uma ideia compartilhada, se não por uma nação, mas
por um grupo de pessoas que pensam a área e que, portanto, são
capazes de, juntas, refazer a ordem das coisas? Será que não está
em nosso imaginário de que “professores são heróis que devem ser
valorizados” justamente o problema de que, se alguns devem ser
valorizados ou não devem, incorporando mais uma vez a lógica
meritocrática, logo, do capital?
Neste ponto, a partir desses dois
lados que apontei, apesar de vislumbrar o fato de que podem existir
outros que não observei aqui, minha pergunta é: como pensar a
educação por fora destas duas chaves: de um lado, a educação
revolucionária, mas distante, de abrangência micro em relação a
maior parte da população e, de outro lado, em uma educação que se
faz em todo lugar, nas comunidades, nas grandes cidades e no campo,
mas de força centrada no indivíduo, meritocrática, com uma série
de subjetivações capitalísticas, feitas por seres isolados diante
de mundos isolados?
Para finalizar, deixo, mais uma
vez, uma pergunta: Talvez, pensar a educação não seja pensar em
uma questão de forma? Como abordar educação e como apontar para o
ato de educar, talvez por um viés Deleuziano em que o ato de educar
se daria como uma matéria sempre informe em constante formação e
transformação – num movimento de territorialização e
desterritorialização - com viés coletivo, que se dá a partir de
semelhanças, do múltiplo, de junções, de hospitalidades, de
planos comuns, ao invés de pensar, como na linha freudiana, naquilo
que falta, naquilo que não temos ou naquilo que temos, mas que ainda
nos falta para melhorar. Pensar na forma, como uma força
mobilizadora, talvez consiga desestabilizar os dois pontos apontados
acima ou, quem sabe, começar a traçar linhas que poderão ser
compartilhadas, nem que seja por nós, aqui, numa sala de aula.
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