Entre bandido. Não tenho armas aqui. Eu votei sim. Leve tudo, fique com tudo. Não preciso de nada disso para viver. Não tenho o seu desespero pelas coisas materiais.
Eu voto sim e essa discussão leva dias. Sinceramente, não vale a pena me defender. Não possuo nada que me seja indispensável. Minha vida, são cartas, que pouco a pouco, de risco em risco, sorriso em sorriso e dia a dia, vou perdendo. Não preciso dormir com medo de bandidos, porque tenho o coração de quem vive por amor a vida, não por medo da morte. Sobreviver não é necessário, viver sim. Se quiser vir aqui, me roubar e me matar, eu morro. Um dia o mundo há de parar de se matar.
Eu voto sim, porque na pior das hipóteses, o país entrara em caos. Bandidos invadirão casas, roubarão tudo, sairão matando e destruindo. O tráfico vai assumir o governo. O sistema se corromperá de vez e os valores se inverterão. O domínio do país, será de quem tem mais capital e de quem tem as melhores influências. Na escola, crianças cantarão: "Atirei o pau no gato to to...mas o gato to não morreu reu reu.. então peguei ei ei, meu três oitão ão ão...e dei um tiro, outro tiro, na cabeça do bichão. MORREU!" A rede globo apresentará Willian Boner com o discurso: "Felizmente, morre hoje o ídolo Chico Buarque, vítima de tiro, ao tentar ajudar uma criança." Enfim, esse caos em que o Brasil se transformará, talvez crie no povo finalmente, um sentimento ufanista. Nós nos juntaremos, todos, e juntos pegaremos pedras, pedaços de paus e iremos para as ruas, gritar, pedir, quebrar. Faremos a nossa revolução de paz, lutaremos pelo nosso sistema. Porque é no limite extremo de tensão é que se faz a transformação. Das duas uma, ou morreremos todos e não existirá povo para ser governado, ou nós mesmos assumiremos o poder, reconstruiremos nossa terra da forma que quisermos, com o sistema que nos parecer ideal, e assim, estaremos aptos a eliminar qualquer dos aproveitadores que venham a aparecer. Porém, toda essa hipótese não parece muito real, não é?
Eu voto sim, pelo sim. Tenho asco a arma. Sim, eu defendo a vida. Eu morro covarde, mas não morro empunhando uma arma na mão. Mesmo que eu fique vivo e mate o bandido, em que construo um mundo melhor?
Será que eu preciso tanto da minha TV, do meu computador, do meu dinheiro guardado, deus sabe para que?, será que o microondas, o forno, o ferro, a casa, o carro valem tanto assim? Será que minha vida é mesmo a coisa mais importante que eu tenho, a ponto de me fazer matar outro, que com certeza, ao contrário de mim, não nasceu com dinheiro, teve fome e passou por dificuldades que não justificam o seu ato, mas sim, são causas dessa conseqüência?
Talvez um dia a gente aprenda que o mundo não é a gente, mas sim, todo o resto menos a gente. Temos de pensar nesse todo, porque a gente não mata, mas o mundo sim. Sabedoria, nessa caso, é separar de si e ver o que é melhor para o país num futuro distante de 100 anos. O que será melhor? Que incentivemos a manutenção de mortes, ou que pouco a pouco, morrendo, salvemos a vida? Sim, porque as vezes, salvar a vida, também significa morrer.
Um comentário:
Você é romântico ao extremo.
Tsc.tsc.tsc.
Texto bonito.
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