28 julho 2008
cambaleio
Cambaleante, o homem, menino ou rapaz, em algumas situações todas nossas partes se embolam, saiu porta a fora e se incomodou com a falta de luz, havia um negrume exagerado e suas pupilas dilatadas demoraram a se adaptar à essa nova condição. Tropicava, esbarrava nos postes, às vezes sentia gazes subirem pelo esôfago, mas logo os expelia em alto som, ninguém o poderia ouvir, todos dormiam, e mesmo que o ouvissem, seria somente aqueles que ou o acompanhavam ou poderiam estar acompanhando esse caminho, e por isso entenderiam sua situação. Grita um carro que passa com música alta, e o rapaz gesticulando com os braços que parecia haver se desprendido do cotovelo para baixo, sente vontade de mijar, resolve encostar-se na primeira árvore que encontra, com a mão esquerda apóia o tronco para que não caia e a direita segura o pênis com atenção para que não se molhe. Junto com o alívio físico, vêm algumas sensações, pílulas de consciência, chega a pronunciar algumas palavras em voz alta, para se ouvir, mesmo que a voz lhe pareça estranha e distante, guarda o pau na calça e se vira, apoiando as costas na árvore e observando o pequeno riacho que se formava com seu mijo, sente-se triste por não poder ver a cor dele, primeiro por ser noite e segundo porque havia mijado no barro, no canteiro das plantas. Ouve um som de ônibus e resolve voltar a andar, iria a pé para dar tempo de melhorar um pouco do efeito alcoólico em que estava, haveria de ser um longo caminho e seria de grande ajuda que arrumasse por algum canto algo para comer, sempre tinha fome e fome das grandes, daquela mais animal que racional, comandada pelos piores sentimentos que podia ter, fome de quem come porque é um ato selvagem, como se não mudasse se separar de si e assim se juntasse a qualquer que fossem os outros seres, se cadavéricos mais bem vindos.
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