06 abril 2010

ela sorria (com a palavra)

chovia no rio
cata gota refletia um vazio
a tarde rasgada de fio a pavio
entremeava a fortuita lacuna
entre a primavera do sol
e a decadência do som

a voz não é mais dita
o que se ouve são repetições
ecos antigos, oblíquos, densos
extensos como megafones
que atravessam poucas pontes
que rumam para o oposto

assim me soam as histórias
as paixões, as comoções
os pedidos, as reclamações
tudo como palavra velha
desbotada pela insistência
de apenas uma pessoa que as recebe
mas não mais me escuta
porque a palavra que agora é vácuo
ela antes ouvia como poesia

(e sorria.)

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