05 abril 2010

uma (quase) história de amor

entrei na rodoviária e o casal estava lá. Ela sentada no colo dele. Ela pequena, magra, cabelo curto e olhos muito escuros, ele boa praça, cara de moço de família, não malhava e cultivava um pouco a barba. Algumas malas perto deles, umas quatro, contando com uma bolsa térmica. Quem olhasse não saberia dizer quem viajaria, se ele ou ela, mas de ninguém escapava de que ali havia uma paixão. Ela sorria com o que ele dizia e ele tímido se arrependia de tudo ter dito. Ele fazia um silêncio e ela silênciava quase triste por ter achado que não agradava. Meu ônibus chega e entro: é também o ônibus dela. Eles dão um beijo e se despedem, ele olha por ela da grade, uma espécie de limite, separação imaginária. Ela guarda as malas no bagageiro sempre aos olhos dele e sempre retribuindo com um olhar também. Eu, do ônibus quase não via isso tudo, sentia que perdia alguma coisa. Ela se sente perto de mim, dois bancos a frente. Ele, que ainda a olha, pega o celular e liga, eles conversam por instantes, sorridentes cá e lá. O ônibus parte, um último adeus e por alguns segundos um silêncio se faz, um corte. Duas curvas depois ela senta na cadeira ao lado da minha e aperta minha mão me entrelaçando os dedos. Diz: "que bom.", eu pergunto: "o que?", ela: "que seja assim, agora." Abaixei a cabeça silenciando, ela baixou a cabeça triste por ter achado que não agradava. Pouco depois me deu um beijo no canto da boca, eu sorri e meu sorriso sorriu nela uma pequena covinha. Viemos em silêncio e não nos largamos até aqui.

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