Estava pensando no olhar dos políticos em público. No que eles nos dizem, tentam dizer, no que eles passam ou precisam passar. É como se, mais do que ter um olhar próprio, eles tivessem que possuir um olhar neutro, mas um neutro engajado, um neutro cheio de energia, que seja capaz de sorrir, ficar sério, triste, indignado.
Penso que todo político precisa aprender isso muito rápido. Aquele olhar que ao encontrar seu rival deve sorrir, mas não muito, se sentir a vontade sem deixar de mostrar sua óbvia superioridade. Um olhar que é para o mundo, que solta flechas, que dá presentes e resolve vidas. Um olhar apaixonado pela sua terra e pela sua gente, um olhar que consiga representar o hino nacional ou um gol de nossa seleção. Um olhar que atinja crentes e ateus, que acabe com as drogas e os problemas de educação. Um olhar maior que seu próprio interior, um olhar que reflete um sintoma cujo remédio é ele próprio.
Depois pensei nos assessores desses políticos. Estão sempre atrás deles, prestando atenção em tudo, medindo as palavras do seu líder e prontos a dar um beliscão na bunda deles, ou intervir dizendo que nada mais se falará. É o olhar atento que o político não pode demonstrar que tem. Enquanto que o político tem esse olhar centrífugo, o assessor tem um olhar centrípeto. Por isso aquela cara carrancuda de quem não gosta de nada e de ninguém, de quem é capaz de matar pelo seu assessorado. Um olhar mortal. Seco, duro, sem nenhum tipo de sensibilidade. Um olhar que representa toda a jogada que é estar ali naquele momento, um olhar que representa a outra parte da política, representa a guerra, a força, o rancor e a desconfiança, mais que isso, é o olhar da disputa.
Esse olhar combinado com o dos políticos é que são a síntese da nossa política atual. Essa mistura de creme de leite com chocolate meio amargo, de banana com canela. Olhe para os dois ao mesmo tempo e complete a moeda. Não se vota pelas palavras, não se vota por um olhar. Se vota pela subjetividade como objetivo, pelo horizonte que essa síntese de olhares faz. Se vota pela capacidade de interpretar o futuro através dos olhares, tal como uma cartomante, que precisa ler seu cliente só de repara-lo. É preciso votar sabendo mais do que fatores práticos, votar em cima de uma balança que vai sempre estar em desequilíbrio.
A política é feita de tanta coisa, tantas palavras e vozes, mas nunca se esqueça das características dos olhares que vagam por ela...
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