03 agosto 2011

por que eu não escrevo um romance

Essa é a pergunta e eu descobri a resposta: porque eu não vivi nada. É preciso muita experiência na vida, muito ateísmo frustrado, muita discussão sobre o nada, muita briga, porrada, muita injustiça, preconceito, racismo, entre outros. É preciso que muita coisa ruim aconteça para que a experiência deixe de ser na carne e se incorpore nas fibras, nos poros, nos sentidos.
A juventude tem alguma coisa feliz no corpo. O corpo jovem é elástico, obedece, faz rir e se recupera rápido de qualquer coisa, isso impede que se sinta as coisas por tempo suficiente. E um romance, pelo menos um dos bons, maduro, precisa dessa coisa aí que não sei o nome. Foi-se o tempo em que se sabia o que escrever porque o mundo mesmo dizia. Agora que escrever é inútil que o ato da escrita se torna mais importante ainda. Isso é essencial: em um mundo que NINGUÉM lê, a função do escritor é ainda maior, vital, quase uma natureza.
E eu não escrevo um romance por tudo isso e se você escreve é porque não pensou o que eu pensei e, portanto, seu livro não me interessa.

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