14 agosto 2011

tão banal

Sempre fui adepto à breguices. A tragédia que é a vida cotidiana me fascina, justamente porque nada parece se destacar de uma mistura bruta de pequenos fatos sem que haja qualquer hierarquia entre eles. É tudo igual, desde uma nota dez de uma prova até a espera de um ônibus. Eu gostaria que as coisas fossem épicas, que todos os gestos lembrassem um exército de gladiadores invadindo uma cidade, pilhando tudo, pulando as regras e tornando o comum em história. As pequenas narrativas não fascinam, enfastiam apenas.
E aí que tudo tem um gosto de pão dormido e parece repetitivo. É como o Benjamin diz, a grande catástrofe é que nada acontece. Esse é o maior problema. Claro que uma mente analítico-clichê diria que se a vida fosse feita de grandes momentos não haveriam tantos grandes momentos ou que, no fim, ficaríamos cansados desses momentos, uma vez que ninguém aguenta todo o tempo com grandes emoções.
Eu sei, eu também entendo isso, também quero conforto, sono, cama e filmes, mas a memória é violenta, desvirtua os fatos e a gente nem consegue mais olhar as coisas com lucidez. Só pode ser lúcido um ser sem memória, porque só ele é capaz de ver as coisas longe desses tentáculos do tempo que passa.
É essa a tragédia e é ela que eu sinto...daí eu resolvo escrever e fica tão banal, tão idiota que nem parece que fui eu que escrevi, logo eu, aquele cara que gosta de ser político, que assiste filme dando nota ao invés de mergulhar na história. Essa é a tragédia e eu não sei fugir dela, na verdade não posso, porque é dela que eu sou feito. A catástrofe é ter que pra sempre existir dentro do comum, do corriqueiro, dentro de paredes de quartos.

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