A galeria Van
Dijk no Centro de Cultura recebe a exposição A Náusea de Ingrid Bortolotti e Pedro Prieto. A Náusea é uma obra existencialista Jean-Paul Sartre em que a
personagem principal em diversos momentos de se cotidiano é tomado por uma
espécie de mal estar súbito, físico e psicológico, que lhe dá uma nova
concepção do mundo que lhe cerca, assim como das pessoas e das situações que se
apresentam. Interessante é que essa Náusea, ataque quase convulso beirando uma
crise epilética, é a forma que se torna preponderante da visão que esse sujeito
obtém daquilo que é a matéria, a vida e a existência.
Pouco posso
dizer da obra de Pedro, pois não tenho qualquer contato prévio com o autor e
suas obras, mas gostaria de falar algumas palavras sobre o trabalho de Ingrid
Bortolotti. Começo chamando atenção para duas palavras para, posteriormente,
explorá-las: Tormenta e Permeabilidade.
Parece-me que
todas as esculturas de Ingrid estão investigando aquilo que é o limiar entre
matéria e espírito, substância e reações químicas, pensamento e sentimento, ou
seja, aquilo que é visível e aquilo que, apesar de invisível se faz presença
pela sensação de ausência. Uso o termo permeabilidade porque vejo as esculturas
de Bronze e Terracota, como uma espécie de obstáculo para o pensamento, obstáculo
para a arte, como se ela, na composição da obra precisasse superar a matéria e
atingir algo que está ao mesmo tempo um nível acima, naquilo que seria
espiritual da matéria, mas ao mesmo tempo abaixo, com os dejetos e pedaços mais
sórdidos do que se chama humano.
A
permeabilidade, então, se torna o procedimento de composição de orifícios, ou
seja, construção de zonas de fronteira, de limbo, entre o exterior e o interior.
É nesse momento que chegamos ao segundo ponto:
a tormenta.
A tormenta,
nas obras, tem a mesma característica da permeabilidade com a diferença de que,
se a permeabilidade tem a ver com a matéria em si, a tormenta faz parte da
lógica do espírito, dos sonhos, dos pesadelos, do inconsciente, ou seja,
daquilo que não pode ser controlado pela racionalidade do instinto material. A
tormenta nas esculturas de Ingrid tem como papel abrir esses orifícios, zonas
de ausência, de falta, de presença do não, para que, tanto no corpo como na
mente, a Náusea mostre suas asas e alce seus voos.
Nesse sentido,
é preciso destacar o caráter biográfico da obra, uma vez que muitas das
esculturas parecem duplos, alteregos e reproduções de fases de Ingrid. Assim,
experiências desde as mais comuns como o frio até impossibilidade do verbo, da
palavra, por um corpo dilacerado, se tornam presentes em espécies de fragmentos
que devem ser lidos em um contexto único.
Enfim, destaco
a excelência da beleza do trabalho de Ingrid Bortolotti e a quantidade de
proliferação de questão que ela traz a tona. Como observação final deixo apenas
um pequeno gesto de dizer que, embora toda a exposição deixe ver um sujeito
esfacelado pela experiência cotidiana e pelo mundo interior, tornando essas
zonas de fronteira uma espécie de violência à paz do corpo, Ingrid conseguiu ao
juntar todos os fragmentos dar uma nova unidade ao mundo, que é pequena, que
vale apenas na galeria Van Dijk do Centro de Cultura de Petrópolis, mas que de
alguma forma, não deixa de nos habitar, pelo menos um bocado de tempo depois.
A Náusea
por
Ingrid Bortolotti e Pedro Prieto
A exposição fica até dia 25 de Novembro de 2012
Centro de Cultura Raul de Leoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário