Aquilo tudo acontecera algum tempo atrás, mas ela já vivia hoje. Acontecera ou começará a acontecer, não está bem certo se aquilo ainda acontece ou se fora somente uma bandeira uma vez hasteada que deixou rastros por todos os cantos onde e por onde o vento perdeu velocidade, sem nunca perder intensidade. Estava úmida e estava pesada. Sentia um peso enorme das cortinas ao lado em seu peito. Eram azuis. Não estava deitada nem sentada, recostava-se de um jeito displicente que causava algum desconforto. Vez por outra parecia emitir um gemido, que no quarto vazio da cortina azul pesada se propagava e se perdia em meio aos móveis e ao edredom. Ali sabia o que esperava ela sem saber o que chegaria pela porta, mas sabia o que esperava. Esse saber vinha muito mais de uma força e de uma confiança no acaso do que de qualquer certeza que tinha. Se ali deitasse dormiria como ninguém, então se abaixou, e vazia, como ninguém, dormiu.
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