23 junho 2009

tratado

Atravessou a rua, o passo torto
o asfalto estufado, o estômago embrulhado
tanta gente que corria num bater de ossos frouxos
e o trocador sorria pra gostosa que passava
tinha um chuveiro na praia poluída
e a água que descia secava antes que caisse
e naquele mesmo sol um menino dormia
um papelão protegia a cara dele
mas como sempre em pouco tempo choveu
o peito protegido pela santa
e o celular com câncer que a menininha fala
e a roupa engomada que amassa na mala
feito qualquer outra malha,
também rasga se levar um tiro, um bico
um soco enviesado
e a cara é sempre mesma, o hematoma passa
o sangue estanca, o plano de saúde paga
a cirurgia, o médico, e volta a ficar gostosa
mas a roupa que rasga é indigna, faz dela uma puta
quando cachorro quente é barato
a gente deixa fazer mal
ninguém se importa se dá úlcera ou coceira
se está suja a orelha que ninguém vê
ninguém se importa com nada,
ao menos que alguém mexa com seu cu
porque sagrado só o cu
e mais sagrado que o cu só o cu da mãe
então se você atravessa a rua
com o asfalto estufado
o estomago embrulhado
batendo ossos no chuveiro da praia
na chuva, com câncer, no celular
rezando pela santa
ninguém se importa,
ninguém tá nem aí
pára de chorar, idiota
num tem ninguém vendo
ninguém aí, ninguém aqui
se quiser aparecer
ou ganhar dinheiro
não chora
vai dar o cu

Um comentário:

francisco disse...

Alguma coisa que passeia por chico, caetano e skylab... com seu jeito meio peculiar de ser vaidoso. muito bom, eu gosto mais quando vc perde a linha!