09 novembro 2009

sobre do que se faz uma canção

Não me perdia nos passos dela, porque não queria fazer de mim um clichê. Era só uma simples entrega num corpo que fluísse por sobre as curvas de outro. Uma questão incontestável de física. Vetores pra lá e pra cá no salão. Eu queria mais do que dançar: queria fazer um projeto filosófico sobre aqueles passos, sobre frágeis presenças de massa que ao som de uma melodia de violão fechavam seus olhos e se entregavam ao risco de se perder, mas não se perdiam, nem ganhavam, porque ali não havia competição.
Era um tipo de contato, mas um contato abençoado pela divindade da canção, como se uma força dissesse que o corpo também serve pra bençãos, também serve para paz, também serve pra nós. As palavras eram poucas, um pouco ofegantes pelo calor do bailado e pelo suor do espírito. O cansaço era questão de relógio, nada tinha a ver com corpo. Assim como as horas, assim como o tempo e assim como o coração. Porque tudo que existe é questão de tempo, de momento e assim como na poesia, no amor e na vida, é sempre um girar de corpos que faz uma canção.

2 comentários:

Marina disse...

RT @ziul "Porque tudo que existe é questão de tempo, de momento e assim como na poesia, no amor e na vida, é sempre um girar de corpos que faz uma canção."

clap, clap, clap, lizantonio. e isso parece muito inspirado pelos forrozes nossos de todo domingo. :)

Rainha disse...

essa é a melhor música que eu experimentei nos últimos tempos. =)