05 março 2010

um filme e uma noite

Ligou a televisão para assistir um filme. Assistiu metade e levantou para buscar uma coca-cola enquanto refletia se era bom ou ruim o que via; pois tinha logo que achar um veredito. Já haviam-no recomendado que visse esse filme algumas vezes, mas havia dito que não gostava do gênero e o ator principal era um canastrão. De novo em frente à tv foi recebendo passivamente as informações daquela narrativa: o ritmo, a pulsação, a trilha sonora, a força e a forma dos diálogos, o excesso de objetos, a sensação de fobia, podia sentir até no fundo alguma coisa de cheiro. Absorvia tudo e agora já absorto conseguia dar alguns sorrisos de lado, sorriso ainda intelectual, e sentir algum tipo de empatia pelo protagonista. Na verdade, começava a se juntar a personagem principal e via nele características que poderiam muito bem ser suas se assim o quisesse. O filme acaba, ele levanta, leva o copo de coca até a cozinha, entra na internet e deixa o msn ligado, algumas vezes falam com ele enquanto ele separa a roupa pra sair, mas ele responde apenas monossilabicamente, talvez como num jeito de não se prender aos fatos ou de não se desprender do filme. Fecha a porta do quarto e fuma um cigarro olhando pela janela, a cabeça está tranquila, sente-se confortável. Toma banho e se desconecta da internet.
Na rua é o último a chegar, pois gosta de criar lacunas naquilo em que se pode prever dele. Começa tímido sem falar muito, mas depois de algumas cervejas se junta a um grupo pequeno e trava conversas batalhas, alguns momentos se solta e se permite fazer piadas ou trocar um elogio, até que a noite se extende até momentos que não consegue narrar. Num dado momento, no banheiro, pára e pensa: "até que não sou tão diferente daquele personagem.", mas lava o rosto na pia e por fim conclui: "nada, aquele personagem que ainda tem muita coisa de mim." E volta para a noite com um novo e renovado espírito. Sabia que tudo correria bem.

Um comentário:

livmelo disse...

identifiquei. podia?