08 julho 2010

bruno



Abraçado com os amigos fazia uma oração. Pedia proteção, pedia conforto, pedia que não importa onde fosse, pudesse sentir a Sua presença agindo na sua vida. Pedia que premiasse seus esforços e de seus colegas. Agradecia pela chance que teve na vida, pelos amigos, pela carreira que até agora tinha sido de sucesso, agradecia a família que tinha e agradecia por tudo que tinha, apesar de não saber nomear. Olhou para o túnel e viu uma luz ao longe, era para lá que iria, milhares de pessoas o esperariam, ali foram para ve-lo, sentir sua força, seus saltos, piruetas.
Terminada a oração, soltou-se do abraço, se abaixou e ajeitou as meias, a chuteira; de pé deu alguns saltos para se manter aquecido, vestiu as luvas, fez o sinal da cruz e num sinal do capitão correu na direção da luz. Viu um mar preto e vermelho gritando seu nome, fez cara de mau, depois sorriu, agradeceu, pensou que hoje era seu dia, que tudo correria bem. Colocou-se debaixo das traves, ajoelhou uma última vez e parou de pensar. O resto era com seu corpo, o resto era com todos, o resto era show, era espetáculo.
Tudo correu bem até o apito final. Foi a última vez que foi feliz, a partir dali nada mais aconteceria, a partir dali a vida era lá fora, e ali sua vida acabou. Seu último momento de vida foi quando olhou pela última vez aquela multidão rubro-negra. O fim da vida chegou, mas a vida ainda durará muitos anos. Porque não é pela oração, pelo que se diz, pelo que se faz: é por tudo que a gente sempre foi e nunca poderá deixar de ser que se paga.

2 comentários:

Fraturas Expostas disse...

Se atos falam mais do que mil palavras, só os atos podem dizer a verdade. Então agimos só pelo que somos.

Unknown disse...

Belas palavras Luiz, em meio a tanta repercursão do caso, nossa você poderia ter dito tanta coisa , mas como um bom escritor e poeta voce soube conduzir o texto muito bem.

Todo mundo sabe no que erra, todo mundo sabe no que tem que acertar.