Tá tudo preto. Em cima, embaixo e dos lados. A coisa tá preta. Não dá pra medir a negritude de tudo, a profundidade da negrura que cobre meus olhos. Quando tem alguma luz, de lamparina ou de vela, parece um escárnio, parece que elas existem pra realçar a escuridão.
Sou um chileno e estou na mina de carvão, preso, e só vou sair em meses. Provavelmente no Natal pra ver Jesus nascer. Não saí, no entanto, hoje pra ver minha filha nascer. Cara, como é aqui? Me pergunto todo dia e não posso escrever. Na verdade não estou escrevendo agora: isso é só um pensamento e por isso sai tudo desorganizado. Estar preso pode dar uma sensação de claustrofobia, mas não, a fobia só existe quando a prisão é passageira, ou de espaço curto, quando é tão longa quanto a nossa, fica tudo bem. A gente sabe se planejar.
A verdade é que eu queria escrever um texto sobre essa sensação, mas não posso. Eu sou um mineiro de carvão e não tenho essa capacidade toda. Estou preso, magro e com fome, penso em processar a empresa. Não dá pra fazer uma grande análise ou qualquer poesia. Se eu fizesse exporia o meu narrador e isso não se faz, não quero que outro fale pela minha boca. Parece que estou no mito da caverna; droga o narrador escapou. Esse texto é complicado mesmo, eu aceito isso.
Ninguém toma banho dinheiro. E o humor é bom. Piada inevitável: pelo menos vou ficar três meses junto com uma mina...e no escurinho.
Um comentário:
ai!
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