25 junho 2011

Ponto Fraco



Texto do programa de Ponto Fraco, prática de montagem da UNIRIO, com direção de Leandro Romano e dramaturgia de Luiz Antonio Ribeiro:


Há um ponto. Todo mundo sabe disso. Sem o ponto não há nada a fazer, não há onde ir e é até impossível se mexer. O ponto serve, no mínimo, pra que a gente se equilibre sobre ele. Sem o ponto a folha está em branco, completamente vazia. A cena, sem o ponto, fica muda. O ônibus sem o ponto vai errar como nômade pelos espaços da cidade. O ponto existe e a gente sabe como é ativado. Sabe como ele é frágil, tímido e se nega a aparecer. O ponto é esquivo, arisco, é quase que uma entidade espiritual que só aparece quando quer ou então quando se chafurda, se lança e se humilha perante ele.
No entanto nosso objetivo não é esse. É que as atrizes, o diretor, o dramaturgo, o cenógrafo, o iluminador e o figurinista sabem do esforço que é lidar com o ponto. Há uma tendência a, antes de tudo, encontrar o ponto. E, escolhido aleatoriamente, o ponto vira quase uma estrela, o ponto é como um guia para cegos e nós, cegos, nos atiramos ao ponto.
Nós, no entanto, somos cegos sem guia. Estamos largados e nada sabemos do ponto. É claro que ele é importante, ele dita os caminhos, mas se o ponto não está lá, estará o caminho?
A partir dessas narrativas pontuais, mas também, sem pontos é que lidamos com a cena. Estamos no caminho certo, à procura do ponto perfeito, porque sabemos que ele está bem na nossa cara, se esfregando, na ponta da língua. O ponto, em fila pequena, é reticência. Em fila grande é pontilhado. O ponto é tudo que se fala dele, é tudo que se escreve no pontilhado e tem reticências no fim.
É o ponto...que é fraco.

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo texto, bacana.