23 novembro 2011

ela e o ônibus

Entro no ônibus e sento ao lado de uma moça.
Eu: bermuda caqui, camisa preta, tênis sem amarrar, meia preta, rosto oleoso de suor seco, despenteado, com olheiras e sono.
Ela: pequena, linda, loira, roupinha de executiva, nariz fino dos mais lindos, olhos claros como tinta de aquarela, com os cílios bem pretos, a pele lisa e seca que nem de maquiagem precisa.
Choro. O olho enche de lágrimas que rolam. Poucas, secam antes de pingarem ao chão. Ela:
Porque chora?
A sua beleza.
O que tem?
Machuca, oprime, humilha.
Desculpe - ela faz uma pausa - mas por quê?
Essa sensação de que nada que eu faça - estude, brilhe, enriqueça - me torne um homem mais interessante. Nada disso pode fazer jus a você e sua beleza.
Entendo - diz ela.
Ela abaixa a cabeça e não fala mais. Nem eu. Entendemos. Três pontos depois ela pede licença para descer. Abro espaço, ela passa e, não sem esforço, me lança seu melhor sorriso. O último. E desce.

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