Cara ou coroa? Vivo ou morto? Oito ou oitenta? Céu ou
inferno? O senso comum, a cultura da afirmação, os jogos, a religião, enfim,
aquilo que compõe nosso imaginário fez e faz com que pensemos o mundo a partir
dessa configuração binária, antitética. No entanto, não é possível que ainda
hoje se consiga pensar tudo através desse prisma rudimentar entre afirmação e
negação, mesmo porque, olhando a fundo, entre cara e o coroa há todo o voo da
moeda e entre o vivo e morto há toda uma vida.
Em política, especificamente, a polarização faz parte do
jogo do mesmo. Uma dialética vazia que tenta nos fazer crer que nosso papel
está na escolha daquele que mais nos cabe ou na exclusão daquele que não nos
agrada. Então, pensar política, pelo menos na cabeça daqueles que mandam, é nos
dar a opção entre escolher qual deles que nós queremos por lá. Assim, tudo se
mantém e nós nos mantemos como membros não-participantes da política do lugar
em que vivemos.
O que afirmo aqui é: eu parto do pressuposto do não, da
negação, de não querer, de subverter, de blasfemar, de debochar, de desapoiar,
de ir de encontro a, de remar contra a maré, de pensar que entre os sins deles,
o meu não vale mais que qualquer outra coisa e, justamente por isso, não existe
nada de afirmativo nessa conjuntura e nada me fará pensar neles como solução.
Vejo que muitos pensam como eu. A verdade é que a política
está mudando, o que não mudou, AINDA, foram os políticos. Não é possível que um
filhote do poder seja criado, enquanto que um sanguessuga, como mosca numa
carniça, esteja novamente a procura de seu quinhão.
Vamos à uma nova política, do debate, da participação, da
rua, da ausência de dinheiro, da consciência, do sorriso e, também, por que
não, da brincadeira. A nova política é
democrática não porque a democracia deve ser algo a perseguir, mas porque a
verdadeira democracia existe numa prática menor, das pequenas escolhas e dos
pequenos gestos gentis de um para com o outro. E que esse gesto se multiplique
e que vivamos momentos de melhor sorte e melhor chance e melhor sonho.
Política é coisa pra gente grande sim, mas todos sabemos que
pra um bom coração é preciso, pelo menos um pouco, parar de crescer.
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