Um
homem anda pela orla da Urca, olhando da mureta a paisagem do
Flamengo e de Niterói lá do outro lado da Baía de Guanabara.
Observa os barcos, todos pequenos, com aquele colorido descolorindo.
Os grandes dos ricos não lhe interessam, parecem artificiais em seu
branco hospitalar.
Quem
passa por ali e observa aquela cena quase consegue ouvir uma
bossa-nova. O homem desce por uns degraus e entra em um barco
qualquer. Senta-se, olha para o rapaz do barco, um marinheiro
semi-rude, tatuado, camisa suja.
Niterói,
por favor!
Oi?
Quero
ir pra Niterói. Vamos!
Meu
senhor, acho que está havendo algum engano.
Engano
nenhum. Está vendo ali ó, lá no fundo, depois da ponte? Vamos!
Eu já
terminei meus serviços por hoje.
Vamos
lá, só essa, só mais essa, liga aí o barquímetro.
Barquímetro?
Olha, meu senhor, acho que você está com problemas. Aqui não é um
taxi, é um barco. Vou ser obrigado a pedir para o senhor se retirar.
Mas...quanta
grosseria...só queria ir alí, até Niterói.
Senhor,
sai do meu barco ou vou retira-lo a força.
Tudo
bem, tudo bem, eu saio.
O
homem levanta e se retira, cabisbaixo, triste. Some na rua, andando
pelo asfalto sem nem mais olhar para a orla. O marinheiro ajeita
algumas coisas no barco, está pronto. Retira um pano de um canto e
se pode ver algo como um taxímetro. Aciona o motor que ruge
atrapalhando o silêncio da tarde da Urca. Desestaciona o veículo e
pelo mar vai sumindo no horizonte. Suspira, sussura, se houvesse
alguém por perto quase não poderia ouvir: vamos lá, Niterói!
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