23 outubro 2012

barquímetro

Um homem anda pela orla da Urca, olhando da mureta a paisagem do Flamengo e de Niterói lá do outro lado da Baía de Guanabara. Observa os barcos, todos pequenos, com aquele colorido descolorindo. Os grandes dos ricos não lhe interessam, parecem artificiais em seu branco hospitalar.
Quem passa por ali e observa aquela cena quase consegue ouvir uma bossa-nova. O homem desce por uns degraus e entra em um barco qualquer. Senta-se, olha para o rapaz do barco, um marinheiro semi-rude, tatuado, camisa suja.
Niterói, por favor!
Oi?
Quero ir pra Niterói. Vamos!
Meu senhor, acho que está havendo algum engano.
Engano nenhum. Está vendo ali ó, lá no fundo, depois da ponte? Vamos!
Eu já terminei meus serviços por hoje.
Vamos lá, só essa, só mais essa, liga aí o barquímetro.
Barquímetro? Olha, meu senhor, acho que você está com problemas. Aqui não é um taxi, é um barco. Vou ser obrigado a pedir para o senhor se retirar.
Mas...quanta grosseria...só queria ir alí, até Niterói.
Senhor, sai do meu barco ou vou retira-lo a força.
Tudo bem, tudo bem, eu saio.

O homem levanta e se retira, cabisbaixo, triste. Some na rua, andando pelo asfalto sem nem mais olhar para a orla. O marinheiro ajeita algumas coisas no barco, está pronto. Retira um pano de um canto e se pode ver algo como um taxímetro. Aciona o motor que ruge atrapalhando o silêncio da tarde da Urca. Desestaciona o veículo e pelo mar vai sumindo no horizonte. Suspira, sussura, se houvesse alguém por perto quase não poderia ouvir: vamos lá, Niterói!

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