Por alguns minutos fiquei com a tela em branco e o traço piscando à espera do primeiro comando meu. Eu, olhando a tela em branco e o traço piscando, tentava descobrir e depois entender aquilo que eu já sabia que eu queria escrever, mas ainda não havia organizado em linguagem, e esse é meu medo: que haja um abismo entre o que penso e o que eu digo. Eis que a idéia aos poucos toma forma e já me aparece com um sintagma: Vejo...
Vejo no mundo um equilíbrio de idéias. Nada mais prevalece como verdade ou como mentira, ou como certo ou errado. Adolescentes em plena crise andam sofrendo bastante com isso, quando tudo parece tão certo, as certezas são tantas e os rumos parecem tão marcados, num segundo lá vai a vida levando tudo embora para que seja tudo reescrito com outras perguntas.
Não que isso seja um problema, ou uma crise, na verdade, é resultado de uma democracia levada a sério demais. O ponto que eu quero vou descobrindo aos poucos, e chegando ao que eu quero dizer é: isso é um sintoma. Sabe sintoma? Não é a doença propriamente dita, mas anuncia doença, precede a ela, encaminha à ela. Muitos irão dizer dos prazeres da democracia e dos problemas de um autoritarismo e eu concordarei. A democracia é um presente, mas a liberdade e a potencialidade assustam.
O mundo contemporâneo é marca de efemeridade. Nada positivo pode durar para sempre, a não ser a promessa de um amor, pois nem o amor está sendo eterno, uma vez que nos últimos anos eles andam "sendo eternos enquanto duram". Acontece que o efêmero deixou no ar uma idéia de que toda idéia é válida, uma vez que ela será rapidamente trocada por outra, então o que for mais eficiente em suprir uma necessidade urgente vira escolha de uma eterno "carpe diem" subvertido.
Esse relativismo absoluto abriu uma gama de possibilidades mercadológicas, pois o fugaz é publicitariamente mais rentoso, pois gera divisas em curto espaço de tempo e constante propaganda barata de curta duração. Assim, o mercado de certa forma adotou os filhos do carpe diem, mas não é disso que eu quero dizer. O que eu quero dizer é desse relativismo democrático efêmero sintomático. Aliás, nem sei se quero exatamente dizer isso.
O mundo de hoje é sofista. Isso que eu queria dizer. Tudo se equivale e se transfere. Não existe essências, mas aparências móveis. Não existe modelo, existe diversidade. E nisso o mundo se perde em teoria, em fugacidade e em..distrações. O mundo de hoje é distraído e desfocado. É desencaixado e frouxo.
E o povo não sabe votar.
3 comentários:
A gente tem sempre que lutar contra esse abismo entre o que a gente sente/pensa e o que a gente escreve.
Mas acho que você conseguiu vencê-lo.
Um beijo!
Meu Deus! Você sumiu!
Ainda se lembra de mim?
Bjo
que estranho...
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