O cachorro fuça, o porco chafurda, a galinha cisca. Todos verbos que parecem ter sido feitos exatamente para cumprir as funções que cumprem, suas sonoridades se coordenam perfeitamente com as ações e não permitem embustes ou adaptações, por exemplo, se o cão resolve chafurdar perde um pouco de sua canilidade e o mesmo aconteceria com a porquidade do suíno se resolvesse ciscar. A galinha não é bicho, é gênero, pois o galo não cisca, o galo vive uma esfera maior dos animais, como se nos galinheiros houvesse área vip e eles, como estátuas, fossem criados e servidos como formigas-rainhas, enquanto que galinhas e pintos “chafurdam” por entre a miséria do galinheiro, fuçando os restos para o outro e para si.
Aposto que nesse exato momento, quem quer que me leia está imaginando metáforas. A mente humana, estúpida na sua criação tem essa tendência, detesta o concreto e já tenta logo construir um outro sentido para aquilo que se vê ouve diz fala toca, bobagem. O concreto é ainda muito melhor que o metafórico e o abstrato nada mais é do que a forma do concreto. Então fuçar, chafurdar e ciscar é tão forte, submisso e modesto quanto isopor, fronha e cabine-dupla são necessários, úteis e facilitadores.
Tirar da matéria a matéria é tirar do chão o piso, do leite o copo e da mente o erro. É esquecer que se chafurdam é porque foi preciso chafurdar e não há nada que se possa fazer.
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