Apontei o lápis, mas não escrevi nada. Aquele buraco me incomodou. Meus olhos querem se fechar, pedem que eu durma um pouco, tire um chocilo, coisa de meia hora digo pra mim, mas resisto. A cabeça começa a trabalhar novamente, primeiro me diz que não são os olhos que fecham, mas as pálpebras, depois me faz perceber que dá até pra sentir, ao se fechar bem, o toque dos cílios superiores com os inferiores. Essa é a cabeça que não para nunca, como se meu presente fosse asburdamente distentido, como se meu dia fosse sempre durar uns três, como se, ao estar doente, eu vivesse algumas vidas, com alguns amores e muitas decepções. É como se eu fosse católico e não importa o que quer que acontecesse, acabaríamos no juízo final, tendo que prestar contas, e quiçá um purgatório me apareceria, ou ainda, poderíamos chegar todos juntos no apocalipse. Seria um presente público, não só esse interno, meu.
Acontece é que, muito feliz, não consigo deixar de pensar que haverá uma lei da compensação. Acontece que quem muito quer nada tem, quem é vivo sempre aparece, quem avisa amigo é, quem tem boca vai a roma, ou seja, quem faz tudo, quem está em todo lugar, a vida é toda de quem, e quem com ferro fere com ferro será ferido. No entanto, no final sempre fica tudo pra depois, pego meu violão, sento na cama, deixo os olhos (ou as pálpebras?) se fecharem e canto bem devagar a canção: quem tem medo do lobo mau...lobo mau?”
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