Nunca escrevi uma peça, muito menos um prefácio pra uma peça minha. Coloquei Hours do Phillipe Glass pra ver se me inspira, mas acho que música instrumental não é muito pra mim, por isso prontamente desliguei.
Li e reescrevi tirando alguns exageros a peça “José” escrita dois anos atrás. A primeira pergunta que me fiz agora é porque José tem esse nome. E são vários os motivos, o principal é que trata-se do meu primeiro personagem de teatro, uma gênenis da minha escrita, então o nome José me pareceu apropriado. José é o pai de Jesus e somos obrigado a ter essa lenda sobrevoando constantemente sobre nossas cabeça. José é o nome de meu pai e o nome do meu avô. José é o nome de Saramago, talvez o escritor que me fez ter o maior impacto estético e o sujeito que me fez ter vontade de ser da literatura. José também é aqui um nome anônimo, José da Silva, um nome que serve pra exemplos. “E agora, José?”A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou.”, diz Drummond. “Todo dia um ninguém José acorda já deitado.”, diz Camelo. “O espinho da rosa feriu Zé, O sorvete e a rosa, ô, José! A rosa e o sorvete, Ô, José! Foi dançando no peito, Ô, José! Do José brincalhão, Ô, José!...” , disse Gil.
José é tudo que me fez nascer, me compõe José sou também eu. No entanto, é importante dizer, acima de tudo é que José é um cidadão. É um anônimo cidadão, um ser político que trafega pelo mundo e que se estanca e se vicia e que se torna absurdo não por motivos puramente pessoais, mas públicos, pois José também é todo mundo. José trabalhou, José foi aposentado, José, não se sabe como, comprou esse apartamento em um condomínio de luxo e se vê sozinho onde tem tudo. Já era sozinho, mas era obrigado a trafegar, agora não mais.
José é o próprio tráfego, é a própria rua e sua autoestrada é si mesmo. Como muitos de nós.
Shelley diz: “Um poeta participa no eterno, infinito, no único; até onde concerne às suas concepções, o tempo, o lugar e os números não existem.” Se isso for verdade, espero nunca ser poeta, porque o que escrevo é do presente, o maior presente do mundo e esse infinito, esse eterno que atribuem ao poeta é só uma forma de aliená-lo. Não existe saída possível: ou se escreve desse nosso presente ou, mesmo falando, se faz silêncio.
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