17 novembro 2010

prólogo

Quando eu era criança minha mãe me contava uma história que dizia ter ouvido de sua avó. Ela era minha bisavó e tinha o apelido de “Vozinha”, o que me soava afetivo e engraçado, apesar da história que ela contava ser muito triste.
A verdade é que não me lembro desse conto de família e tenho certeza que minha mãe sabe, mas preferi nunca perguntá-la. Sei que era sobre um pássaro, acho que um papagaio, que era maltratado pela sua dona. Ela não reparava nele por ele ter feito alguma coisa errada e deixava-o passar fome. Todos os dias ele dizia: “Tô fraco, sinhá!”. Prestes a morrer dizia : “To fraco, sinhá! To fraco, sinhá!” Por fim, morria. Não lembro com precisão, mas acho que sim. A história era muito triste e minha mãe dizia que sempre chorava assim com essa história. Ela e seus irmãos.
Eu queria saber mais e minha mãe dizia que eram várias histórias que a Vozinha contava na cozinha antes de todos dormirem, algumas felizes, outras tristes. Muitas faziam chorar. Eu não entendia dessas histórias, me pareciam ter acontecido em outro mundo e eu tinha medo. Via televisão para esquecer e tinha sonhos estranhos. Quando acordava ficava pensando num pássaro que dizia “Tô fraco, sinhá!” e pensava que se os pássaros pudessem falar três palavras antes de morrer seriam sempre essas.
Pra mim, todos morriam igual, fracos e sem poder voar...como os pássaros.

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