21 julho 2011

o buraco

Já vinha eu falar de outra sensação por aqui. Agora é a sensação de terminar de ler uma obra-prima. Acontece que um outro pensamento me bateu: Por que escrevo tanto sobre sensações?
Não sei, escrevo pra pensar. Eu sou um materialista praticante e, justamente por conta disso, percebo que as sensações me escapam. São reações químicas que produzem resultados absolutamente indescritíveis, que estão no campo do sublime, coisas que nos tomam e quase ganham vida dentro de nós. Quando uso a palavra coisa, uso de propósito, a sensação é uma coisa, porque é uma matéria invisível que sentimos passar por dentro de nós e como vem, atravessa e sai, deixando um buraco.
O buraco que a sensação passa talvez seja o problema. Acho que escrevo sobre esse buraco. Ele fura nossa razão, nosso raciocínio lógico, mas não coloca nada no lugar. É como se ele tirasse uma viga de um prédio que permanecesse em pé, mesmo que cambaleante. Esse buraco precisa ser preenchido novamente. A maioria das pessoas se reveste de queijo suiço de pequenos buraquitos que viram quase caminhos de formigueiro. Outras pessoas escolhem uma pessoa pra fazer o buraco: o amor, e nisso se tornam superficiais. Quem ama demais, não pode sentir muito amor, as duas coisas se excluem.
Acho que descobri então, deixa-me resumir: sou materialista, mas com sensibilidade, então as sensações abrem buracos na minha existência e esses buracos desestabilizam aquilo que sou, portanto preciso preencher esse buraco para me manter em pé e dar sentido às coisas. Minha forma de dar sentido é escrevendo justamente sobre esse buraco que se torna algo como uma peça de cristal ou uma planta que cuido.
Saber que existo é bambear pelo buraco das sensações sem nunca me deixar ceder, pois ceder ao buraco é fraquejar. É entrar na armadilha e na mentira que as sensações montam: elas devem desestabilizar para criar ou um outro ser e esse outro ser tem responsabilidades e não pode ceder ao primeiro poço dos desejos que vê.
Poderia agora escrever sobre a sensação de um livro, mas não, acho que já disse o que tinha pra dizer.

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