09 julho 2011

sensível

O artista pra lá, o artista pra cá. Muito se fala do artista, muita gente se considera artista sem o ser e muita gente o é sem ao menos fazer arte. Não quero entrar nesses méritos nem analisar as sutilezas da questão. Meu ponto é pequeno, quase não cabe em um texto: o artista não pode ser sentimental.
A sentimentalidade sobrevoa a pessoa, passa por cima dela e fica por ali vagando, sem deixar que se olhe o mundo com a frieza necessária para se fazer arte. Há quem diga que arte é transbordamento, é deixar a mão fluir no que ela quiser fazer. Isso pra mim pode gerar grandes obras, mas nunca grandes artistas. O grande artista pensa sua arte. Pollock deixava a tinta cair, mas pensava sobre sua técnica e seu fazer, entendia que a performance era parte da pintura. Deixava-se ir no seu plano, no seu fazer artístico.
A diferença é que o artista tem que ter sensibilidade, ou seja, ser disponível à empatia entre ele e o mundo, entre ele e os outros. É ser afetado sem afetação, se deixar tocar sem se deixar mergulhar. Quando alguém te conta uma desgraça e você sente junto é um sentimental. O sensível é aquele que diz: "não me conta, o meu dia depende disso". A sensibilidade passa por algo de racional, por isso que o artista precisa estudar, pra ver o mundo de outras formas, de mais maneiras, ou seja, precisa enriquecer a experiência e tornar o cotidiano mais denso, assim a sensibilidade tem campo e o sentimentalismo é só escorreção de palavras que parecem profundas, mas são ocas.
Brecht era um sensível, não um sentimental. Assim vai a lista: Eça, Pessoa, Machado, Rosa, Calvino, Saramago, Kafka, Camus, entre outros. Quem mais?
Pense nisso, às vezes...

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