Meus deus, eu que sempre resolvo tentar saber tanto; eu que tento ser de mim para mim, e viver por mim, mas que me abandono sempre pelo outro. E pior, sempre que me abandono é quando chego muito mais perto de me encontrar, embora nunca me encontre.
Acabei de assistir Polaróides Urbanas, o filme que é a primeira direção cinematográfica do Miguel Falabella. Tenho que dizer que foi com espanto que recebi esse filme. Foram choros e gargalhadas acompanhadas somente por mim nas já costumeiras idas solitárias ao cinema nas tardes cariocas. Choro porque sofro com aquelas personagens, rio porque também sou um pouco delas, e sendo, compartilho com elas essa nossa solidão, que no final, sempre nos parece engraçada, ou não?
Acho que resolvi escrever simples hoje, escrever simples porque quero ser entendido, acho que cansei da minha solitária missão de fazer arte, de esconder signos pra lá e pra cá. Queria hoje poder dizer em eterno estado de crônica, de sair falando e falando e no tempo que você me lê, ir entendendo e gostando, e sentindo que divide alguma coisa comigo, nesse momento único que é estarmos longe fisicamente e tão perto dentro, nessa coisa que a gente pode chamar de alma, mas que eu prefiro chamar de “a gente mesmo”.
Tem uma cena do filme que eu resolvi transcrever porque demonstra tudo isso que eu tentei dizer aí em cima. Vamos a ela:
Numa praia, uma mulher quarentona e um menino de vinte e poucos anos conversam:
tenho que falar pra senhora, o que eu disse de ser stripper é mentira. Eu sou garoto de programa...
Como?
É...eu faço sexo por dinheiro.
Bem...pelo menos faz sexo, ne?
E nesse completo encontro de perdidos na urbanidade que seguiu minha cabeça. Andar na rua foi estranho, mas voltei pra casa, retomei a rotina e já está tudo bem. E por que será que finalmente quando volta tudo ao normal me dá vontade de dormir?
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