Depois que foi assaltado uma duas vezes, passou a ser nervoso. Não que tivesse sido traumática a experiência do assalto, nada lhe tinha acontecido e nem ao mesmo perdera muitas coisas, mas começou a se sentir mal sempre que saía, era como se passasse o tempo todo burlando a possibilidade de assalto que lhe parecia inevitável. Chegar no lugar sem ser assaltado era a vitória e aliviava um pouco, mas mesmo assim já começava a pensar como faria o caminho de volta e assim poder burlar de novo essa ordem social.
Abre o portão do prédio e já olha para os lados e pra frente pra ver se consegue ver algum pivete, ou alguém suspeito rodeando por ali, caso não veja, vira para seu caminho e vai embora, vamo que vamo, pé na estrada, passo e pulso acelerados. Chega no ponto de ônibus e tira a mochila das costas, ninguém roubaria na mão boba por trás sem ele ver. Caso haja alguém suspeito por perto, anda até o ponto ao lado, caso algum mendigo atravessa a rua na sua direção, volta para casa. Tudo tem uma fuga. Chega o ônibus e entra, só senta no corredor com a mochila no colo perto do trocador olhando para quem entra e olhando para quem sai. Salta do ônibus, olha pros lados e escolhe o caminho mais perto. Vai como flecha.
Chega em casa a noite cansado, exausto com dores de cabeça, dorme mal. Acha a vida um estresse.
Dia seguinte, sai do portão do prédio tenso e é logo assaltado. Dá 10 reais lá pro sujeito e vai embora pra aula. Nunca foi tão leve, nunca se sentiu tão bem, estuda bem, dorme bem, diz oi pro trocador, pro motorista, ameaça até conversar com pessoas no ônibus, dá o lugar para os velhinhos. Enfim, sente a liberdade que ele tem quando já não tem.
2 comentários:
eu gostei; bem urbano.
no alarms and no surprises -- apesar de vc não gostar dessas coisas (que eu saiba). . .
Postar um comentário