31 março 2009
o outro.
Quando estava num bar com alguém perguntava pouco, mas pensava muito antes de cada uma das perguntas, de modo a fazer a resposta ser a mais longa possível, e olhava, olhava, até se ter alguma coisa para olhar, depois ia embora. Quando falava dele, falava indo embora, ou falava só para deixar a pessoa mais a vontade de falar mais dela. O máximo que pudesse, como disse, quando não tinha mais o que olhar, ia embora.
Quando estava no cinema, olhava para a tela como se tivesse vendo o globo terrestre, via mais do que nunca. Quando via futebol, se mexia o mínimo, mas o rosto era expressivo, mais do que qualquer rosto que havia visto na vida, porque ele sabia olhar, sabia como olhar, e entendi como aquilo tudo podia mudar em segundos, dependendo do jeito que lá dentro os outros olhassem.
Quando às vezes, melancólico, queria fazer mais coisas na vida, percebia que não podia porque enquanto alguns aprenderam a sorrir, a interagir, a mentir, a comer, a beber e a viver, ele estivera todo o tempo fazendo a mais singela das coisas, talvez a mais generosa e a mais encantadora, ele perdera grande parte da sua vida aprendendo que para ele, viver não era estar por aí, viver era olhar.
os vencidos
Tudo isso veio a tona porque fui assistir: "Corumbiara", documentário que faz parte do festival "É tudo verdade". Esse documentário fala sobre índios que foram dizimados, ou expulsos de terras em roraima. E eu que não gosto de índio, acho que no fundo eles não são mais índios do que os judeus judeus, que os negros negros e por isso podem e devem viver tal como o que são e pelo quanto que conhecem, eu que acredito em tudo isso acabei por sentir uma imensa simpatia por eles e tive vontade de defende-los e até me emocionei com eles, mas tudo isso porque eles lutam contra fazendeiros.
Daí pensei que vou fazendo hierarquia de ódios, os fazendeiros são mais odiados que os capangas que são mais odiados que membros da funai que são mais odiados que índios, e nessa cadeia, talvez sobre alguém digno de se gostar.
29 março 2009
who you are
What do you say to me
Is who you are
Cause I can´t be there to know
Cause I can´t be there to show
That what you do, more than you say
That what you do is who you are
27 março 2009
nossa senhora (é) aparecida
Estavam então Domingo e Pedroso à beira do rio conversando sobre a visita do Conde de Assumar. O estava bonito e embora os dois pescadores estivessem acostumados a diariamente fazer essa mesma atividade, naquele dia preferiram não desamarrar o barco e navegar, já que dessa vez não era para a venda, ou para o alimento de sua própria família que o fariam. Eram homens de alguma inteligência e pouco vocabulário, o que fazia com que sua conversa agora, apesar de parecer rude, fosse apenas um modo humano com menos bloqueios de demonstrar sentimentos. Não queriam estar ali, o dia não estava para pesca, mas como havia dito o conde, viera para mudar, para realizar ali um milagre. Por coincidência, depois de entrarem no rio e jogarem a rede duas vezes saía de lá uma santa, um verdadeiro milagre. Quinze anos ficaram com ela em casa, recebendo fiéis que iam até lá e deixavam trocados, depois transformou-se em capela, em igreja, em basílica. Até que um papa resolveu nomear a santa achada no rio como padroeira oficial do Brasil, claro, com um ou outro milagre aparecendo aqui e acolá, porque um milagre nunca vem só, faz-se um e tem que se fazer vários para consertar as imperfeições do primeiro. Há milagres piores que sofrimentos. Enfim, que o Brasil tinha uma santa padroeira com uma fé que chega por todo território, uma basílica numa cidade que vira camelô de produtos e cede para várias excursões e pedidos que poderiam ser realizados pela fé à distância ou pela ajuda de médicos. A única coisa nessa história que ficou faltando foi a refeição do conde de Assamar, que pelo visto, aquele dia do aparecimento da santa não aconteceu.
25 março 2009
a culpa
Era eu dizendo para um amigo que apesar de tudo estar mudado existia algo que permanecia, como se a minha capacidade de pensar fosse cada dia mais além e minha capacidade de entender diminuísse cada vez mais. Eu estava sentado e tomava um refrigerante que é o que faço quando quero pensar melhor; a cerveja fica para quando quero pensar maior; e ali parado, olhando as pessoas circularem eu não entendia muito bem como tudo poderia se dar, se era comigo fazendo alguma coisa, pegando um ônibus e vivendo, ou voltando para casa e dormindo, ou até ficando ali esperando algum sinal.
A verdade é que quando se resolver pensar em três, não em um, não em dois, mas em três que é o primeiro número coletivo, fica cada vez mais complicado entender pra onde as coisas estão indo, a gente se torna mais político, mais...engajado, e fica complexo esse limiar entre saber o que fazer porque é certo e saber o que fazer para ser mais feliz.
Era essa equação que eu deveria ter calculado melhor tempos atrás, porque talvez os olhos dela ainda sejam os mesmos, talvez seja eu que não saiba mais olhar. É que sempre fica aquela sensação de que a culpa é sempre minha.
23 março 2009
pra próxima
beco sem saída
21 março 2009
atualmente.
18 março 2009
gosto
Luiz Camillo Osório
Há hoje em dia uma aceitação geral do que quer que seja como sendo algo necessário, ou explicável por necessidades e dificuldades que qualquer um vive. Não digo dos casos mais graves, dos criminais, digo assim, na vida prática, cotidiana. Muitas vezes já me deparei com pessoas que sabem que outras erraram feio, mas mesmo assim crêem que elas tinham seus motivos para fazer o que fizeram. Para mim, isso não passa de tolerância de quem tem teto de vidro, e digo sabendo que todos o temos, óbvio.
No entanto, essa frase do Camillo, meu professor, me fez perceber exatamente o que acontece: há uma concordância geral que não permite brechas ou discussões. Se um amigo seu é inteligente e universitário está certo, não adianta discutir gosto, não adianta, basta você pensar o seu gosto com você mesmo para aceitar aquilo e ele que faça o mesmo com as coisas que você gosta. "Se o integrante do los hermanos lançou uma banda nova é óbvio que a banda é boa, se você ouvir, vai adorar e vai virar fã, igual era de los hermanos.", e isso já é introjetado de certa maneira que se você não ouvir é um belo de um traidor.
E assim vai, tantos são os exemplos. Para mim, o importante é discussão do que nos interesse no que nos interessa e do que não nos interessa no que não nos interessa, para assim, poder discutir o que pode nos interessar no gosto dos outros e vice-versa, assim, podendo abrir a conversa para ampliação da capacidade de reflexão entre o que é bom e o que é só gosto.
15 março 2009
lutador.
05 março 2009
descida
Agora, enquanto descia até à praça percebi que havia vivido um dos melhores momentos de minha vida e agora já tinha que encarar a vida normal, pessoas a andar com o olhar triste, o cansaço habitual do cotidiano, o desviar de meninos de rua, ou moleques, ou até adultos de rua, cada vez mais raivosos, pois não conheciam Marcella, seriam incapazes de amar. Cheguei até o chafariz, molhado, e fiquei observando como a água que caía empurrava a que deveria subir mais para baixo, foi a última coisa que pensei naquele dia, o resto dele foi só saudade. Aquele dia já passou, mas até hoje é assim.
03 março 2009
blogs (ou globs)
Daí cheguei a conclusão de porque eu escrevo: porque eu num tenho nada melhor pra fazer na minha vida. Sei lá, eu penso daí quero desenvolver um pensamento, ver até onde ele vai, daí venho aqui e escrevo, geralmente rende, às vezes não, posto mesmo assim. Por exemplo, meu carnaval daria um belo post e porque eu num fiz, porque foi importante demais e reflexivo de menos. É assim que é, ninguém precisa ler esperando nada de ninguém, cada um fala o que quer, ouça/leia quem tiver paciência. Escrever é estar embaixo do mar, fica-se sem ar e faz-se globs.