27 março 2009

nossa senhora (é) aparecida

Estavam então Domingo e Pedroso à beira do rio conversando sobre a visita do Conde de Assumar. O estava bonito e embora os dois pescadores estivessem acostumados a diariamente fazer essa mesma atividade, naquele dia preferiram não desamarrar o barco e navegar, já que dessa vez não era para a venda, ou para o alimento de sua própria família que o fariam. Eram homens de alguma inteligência e pouco vocabulário, o que fazia com que sua conversa agora, apesar de parecer rude, fosse apenas um modo humano com menos bloqueios de demonstrar sentimentos. Não queriam estar ali, o dia não estava para pesca, mas como havia dito o conde, viera para mudar, para realizar ali um milagre. Por coincidência, depois de entrarem no rio e jogarem a rede duas vezes saía de lá uma santa, um verdadeiro milagre. Quinze anos ficaram com ela em casa, recebendo fiéis que iam até lá e deixavam trocados, depois transformou-se em capela, em igreja, em basílica. Até que um papa resolveu nomear a santa achada no rio como padroeira oficial do Brasil, claro, com um ou outro milagre aparecendo aqui e acolá, porque um milagre nunca vem só, faz-se um e tem que se fazer vários para consertar as imperfeições do primeiro. Há milagres piores que sofrimentos. Enfim, que o Brasil tinha uma santa padroeira com uma fé que chega por todo território, uma basílica numa cidade que vira camelô de produtos e cede para várias excursões e pedidos que poderiam ser realizados pela fé à distância ou pela ajuda de médicos. A única coisa nessa história que ficou faltando foi a refeição do conde de Assamar, que pelo visto, aquele dia do aparecimento da santa não aconteceu.



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