Eu sempre gostei mais dos vencidos. Tirando a minha escolha sobre time de futebol, é claro, já que o glorioso flamengo é a instituição mais vencedora de todos os tempos. O fato é que gosto mais das empregadas que dos donos, gosto mais dos porteiros que da síndica, gosto mais do porteiro noturno que do porteiro chefe, gosto mais do gari que da recepcionista, gosto mais do garçom que do gerente. Gosto e se possível defendo eles. É como se minha humanidade transparecesse na vontade, um tanto quanto escrota, de pensar por eles, de agir por eles, de reagir por eles, como se eu pudesse sozinho fazer a vida deles um pouco melhor, ou menos pior. Mas não é só isso. Sempre que alguém reclama com um garçom de mal atendimento não consigo deixar de pensar que "eles precisam mais desse salário que eu dessa comida", ou quando alguém reclama com um trocador que o ônibus está cheio, demorou, ou vai aumentar de preço, não consigo não pensar: "daqui a pouco eu desço e chego em casa e esse cara que vai ficar o dia inteiro circulando nesse calor e nessa cheiura pra lá e pra cá?".
Tudo isso veio a tona porque fui assistir: "Corumbiara", documentário que faz parte do festival "É tudo verdade". Esse documentário fala sobre índios que foram dizimados, ou expulsos de terras em roraima. E eu que não gosto de índio, acho que no fundo eles não são mais índios do que os judeus judeus, que os negros negros e por isso podem e devem viver tal como o que são e pelo quanto que conhecem, eu que acredito em tudo isso acabei por sentir uma imensa simpatia por eles e tive vontade de defende-los e até me emocionei com eles, mas tudo isso porque eles lutam contra fazendeiros.
Daí pensei que vou fazendo hierarquia de ódios, os fazendeiros são mais odiados que os capangas que são mais odiados que membros da funai que são mais odiados que índios, e nessa cadeia, talvez sobre alguém digno de se gostar.
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