30 julho 2011
meu problema com clarice
Não posso dizer que não gosto de Clarice Lispector, mesmo porque “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” é uma das obras mais sublimes que já li. Posso, entretanto, dizer que tenho um problema com ela, algo ideológico, filosófico, estrutural.
Primeiro de tudo, acho que o autor deve, ao escrever, tomar todo o cuidado para não ser mal lido. É preciso mão firme na escrita afim de que o leitor desavisado, romântico de final de semana, não apreenda sua obra para fins duvidáveis como afogar uma mágoa, dar recados semi-amorosos ou qualquer sentimentalismo do tipo.
Segundo, meu lado materialista me leva a pensar na relevância dessa viagem interior. Até que ponto ela gera independência ou até que ponto ela é alienante? De cara, uma viagem para o auto-conhecimento me parece apenas alienante e, por conta disso, não leva a nenhum tipo de consciência social, política, ou algo que contribua aos outros. Por outro, é possível que na mudança de um em efeito dominó mude-se todo.
Enfim, me debato. Por via das duas implico com a pobre Lispector, que pouco tem a ver com minhas elocubrações a seu respeito. A verdade é que o consumo transformou Clarice em uma conselheira amorosa, assim como transformou a frustração em motivo para se gastar dinheiro. É assim que funciona: enquanto houver consumo, haverá felicidade. E o que há além? O amor, ou ele é mais uma parte dessa ordem do consumo?
Sinto-me velho ainda com essas discussões, mas me reservo o direito de não recomentar Clarice Lispector a qualquer um...pode ser prejudicial.
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Um comentário:
ai ai, clarice é complexa justamente por ser simples.
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