23 outubro 2011
pássaros amarelos
Algumas imagens me livram de viver. Essa frase pretende sintetizar muita coisa e espero que ela o faça. Primeiro foi o texto da Clarice, depois a imagem do Klee, depois a aparência dos pássaros amarelos. Como é difícil viver depois que se sabe que existem pássaros amarelos. Às vezes a gente tem tanto medo de ser, de virar as coisas, que uma paisagem, uma canção ou um amor parecem um esporro, uma ode à liberdade. Mas é que é preciso se livrar de muita coisa pra ser livre, inclusive da ideia de liberdade, essa grande prisioneira de vidas.
É por isso que os pássaros amarelos são o que são e é preciso sentir o mundo de forma bastante sublime para entende-los. Eu gostaria de um dia poder ter a capacidade de transfundir minha existência em seres da vida. Gostaria de realmente tocar uma criança, de sentir um gatinho ronronar, de pular numa piscina e sentir a água na pele, de sentir o vento estragar o cabelo com um sorriso, de andar de mãos dadas sem que pareça que, no caso, um ser prenda o outro. Eu gostaria, enfim, de conseguir ser menos eu, quase nada eu, um não-eu, pra chegar até o outro e lhe tocar com uma beleza que não tem no mundo, assim como fazem os pássaros amarelos do Klee. Eles não existem e justamente por isso fazem os maiores vôos em mim.
E no começo de um dia, gostaria de ver esses pássaros cantar (rouxinol ou cotovia, Julieta?) chamando o sol que vem. Como anotou Buarque: “e o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz...”
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