24 outubro 2011
pequena dor
O que eu escrevo é uma pequena coisa. Como diz Veloso e Tê, “uma pequena dor (que)/ quase nem sequer me dói / É só um pequeno ardor que não mata, mas que mói / É uma dor pequenina, quase como se não fosse...” E eu pouco vejo dessas dores por aí de tanto que as pessoas forjam dores gigantes assim como forjam amores. Mas a palavra dor não é certa, não se encaixa na pequena coisa que escrevo, pois que, mais que dor, trata-se de uma sensação que até então me era desconhecida e que apareceu tal qual no quadro de Hopper. Essa sensação não é a de isolamento, muito menos da incapacidade de lidar com outro. De tão pequena, ela pode ser dita como um desacerto levemente melancólico.
O quadro do Hopper chamado “Cinema em Nova Iorque” me passa essa sensação. A moça não é feia, não é triste, nem sofre. Parece talvez que, por um momento, nem que seja só aquele que Hopper captou, ela pare ao lado do cinema, entre a entrada e a saída e pense. Pensa na vida com uma profundidade que eu não sei mensurar, pensa tão longe que toda a razão do universo está contida ali entre assistir ao filme e ir para a rua. Não, é mais que isso, o filme é produto de segundo plano, ela pensa no sentido do evento social e da vontade profunda de se proteger contra o filme, de não se deixar envolver, de esperar, de lutar contra essa ficcionalização das narrativas. E aí, por segundos, ela estanca e o Hoppper, com ela pensa no que vai ser daquele dia, daquela moça, que não se pode saber nada com exatidão. Sabe-se apenas que dói, mas só um pouquinho.
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