01 outubro 2011

Futebol: A Insustentável Necessidade de ser Ídolo



A vantagem de ter apenas 26 anos é que, ao falar de futebol, o saudosismo não me invade, nem a memória cria subterfúgios falsos para análise. Imortal, para mim, no futebol é somente Romário e todos os outros são apenas candidatos do futuro. O que me reservo a dizer é apenas uma impressão do passado. Pelo que me parece, jogar futebol era mais que uma vocação, uma inclinação pessoal do jogador. Sem mistificação, a maioria deles não sabia fazer muitas outras coisas: não tinham estudo, não possuiam grande eloquência nas artes ou no discurso e o futebol era a maneira popular de expressar uma arte, uma inclinação pessoal para a beleza. E assim, jogava-se bola como um poeta: boêmio, malandro e transgressor, fazendo da bola um parceiro das peripércias inesquecíveis por uma platéia voraz.
Faço um salto para olhar um fato específico: a necessidade dos jogadores da atualidade em se tornarem ídolos. Jogar bola sim, se divertir com ela também, mas antes de tudo é preciso ser ídolo. A permanência de Neymar no Santos nada tem a ver com futebol, dinheiro, status, mas sim com a vigência de vir a ser um ídolo em seu clube e ver seu nome figurado ao lado de Pelé. Ronaldo, ao deixar a possibilidade de jogar no Flamengo e ao aceitar a proposta do Corinthians, percebeu que no seu time do coração, onde realmente poderia ser ídolo, já havia muito de sua vida pessoal com incidentes pessoais, problemas, histórias e controvérsias. No Corinthians, torcida apaixonada, ele reviu a possibilidade de recomeçar a construção de uma imagem de ídolo, agora nova e que se perpetuaria para a eternidade do clube. Esse fato chega a me espantar, como se Ronaldo, com o futebol que possui, precisasse realmente disso para ser um ídolo. Até a escolha de Adriano pelo Corinthians, após ter sido taxativamente negado pelo Flamengo, é a única possibilidade que ele vê de jogar bola e, ainda sim, ser visto como ídolo.
Esse fato tem se sudecido por tantas vezes que o que vemos são ídolos forjados, fracos, sem idolatria, a não ser aquela forçada pela impressa e atestada pelos tolos apaixonados. Tanto que alguns ídolos chegam até a renegar o status de tal, como Zico ao ver que seu nome acaba por se sujar ao ser colado à seu clube de coração. Poucos sabem se colocar na posição de ídolos e representantes como Rogério Ceni e Marcos; a maioria, buscando uma idolatria a qualquer custo, se rende a uma falsa masturbação de notícias com seu nome, elevando-o à status que nem ele mesmo pode prever e previnir, fazendo do nosso futebol um enorme berço de ídolos de segunda, fracassados, que caminham para finais de carreira triste, em que foram pouco ídolos em muitos clubes e amados apenas pelos tolos, nunca por aqueles que vem o futebol como a maior manifestação da beleza.

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