Desde a primeira vez que minha mão me masturbou
pedi-a em casamento.
ofereci-a a outra, a esquerda,
que, tímida, logo se encantou com os charmes da primeira.
e aos poucos as duas começaram uma espécie de dança:
se na rua, envergonhadas, andavam longe, desencontradas,
bastava um tédio, um espera, uma missa, uma tristeza,
pras duas convulsivamente se encontrarem e se entrelaçarem
num baile erótico que as conduzia as mais belas carícias.
eu, testemunha, do furtivo amor
acompanhava essa dança
como quem acompanha a si próprio
e dançava com elas
como se fossem minhas.
aos poucos,
com a chegada da aliança -
que só a esquerda usou -
fez-se uma tristeza,
deu-se um abandono:
a direita, livre e limpa
mantinha-se perfeita,
e dependente do contato
dos apertos de outras mãos.
já a esquerda,
amarrada ao anel,
sofria.
então as duas se separaram,
soferam.
e agora sem aliança
continuam ocasionalmente os bailes,
as danças e os encontros furtivos.
Agora mais velhas,
já não tem o mesmo talento
e desenvoltura de outros tempos.
Ainda sozinhas,
sofrem
e pra sempre sofrerão.
mas vez ou outra ainda me masturbam,
alternadamente,
com saudade de outros tempos.
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