04 setembro 2012

Entrevista Shuffle

Entrevista na íntegra de Letícia Knibel comigo que resultou na matéria da Revista On.


foto divulgação



Em que você se inspirou para escrever o conto Shuffle? E como surgia a ideia da peça?

Eu estava pensando muito na relação entre homem e máquina e em como hoje em dia a máquina funda uma segunda natureza no homem, fazendo parte do organismo da gente, como uma extensão de nosso corpo. Nesse sentido, a máquina, a tecnologia com suas proteses, marcapassos e até computadores e redes sociais, chegando aos simples aparelho sonoros, nos compõe e fazem parte do nosso sistema cognitivo e simbólico.
Junto disso, achei interessante pensar sobre um Ipod Shuffle: um aparelho eletrônico e, por isso, semi-artificial, que tem como função escolher aleatoriamanente a ordem das músicas que o sujeito vai ouvir. Maior simbiose entre homem e máquina impossível.
Escrevi o conto e mostrei pro Leandro Romano, membro do grupo e um dos diretores da peça que pensou na transposição da lógica shuffle para o teatro.

Qual o diferencial dessa peça e o que o público pode esperar da mesma?

Não sei se falaria em diferencial porque praticamente tudo já foi feito em termos de arte. Mas o bacana da peça é que o ator em cena atua de acordo com as música que o Ipod Shuffle tocar. Ele opera o Ipod que escolhe músicas e cada música representa uma cena. Assim, a peça se constrói e se desconstrói a cada dia, uma vez que ela não possui uma ordem definida previamente. Deixar a cargo do Ipod essa escolha submete o ator e a plateia à uma ordem superior de comando, ao mesmo tempo que passa uma ideia de impotência frente ao poder desse pequeno aparelho.

De que maneira a peça pretende abordar a problemática do distanciamento causado pela 'excessiva' virtualização, onde o real se afasta cada vez mais ou é substituído pelos novos meios de comunicação?

Nesse caso respondo apenas por mim e não pelo grupo. Acho que cada um deve ter uma visão diferente do caso.
A verdade é que nessa pergunta fica no ar um aspecto de demonização da tecnologia em prol de um “real” e “verdadeiro”. Em Shuffle, o que se pretende não é criticar nem elogiar a tecnologia, mas mostrar como ela é um meio que está simbioticamente ligado ao homem. Não sei até que ponto a virtualização é excessiva e também não sei se, caso seja, isso é ruim. A forma como construímos nossa subjetividade é completamente ligada à tecnologia, negar isso é ingenuidade e tentar se afastar para um contato mais pretensamente verdadeiro também é uma fuga que leva, novamente, a um caminho de virtualização de uma imagem que fazemos do natural.
Shuffle mostra como um Ipod pode manipular um homem que manipula um Ipod. Não se sabe quem manipula quem e no fundo os dois são submetidos um ao outro, como se em algum momento não houvesse qualquer diferença entre eles. Se isso é bom ou ruim, não sei.

Até que ponto as tecnologias podem influenciar ou modificar o comportamento das pessoas?

A tecnologia deve obrigatoriamente influenciar e modificar a vida das pessoas. Tudo que existe modifica e influência nossa subjetividade. De novo: se isso é bom ou ruim, não sei. Cabe a pergunta.


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