Entrevista na íntegra de Letícia Knibel comigo que resultou na matéria da Revista On.
foto divulgação |
Em que você se inspirou para escrever
o conto Shuffle? E como surgia a ideia da peça?
Junto disso, achei interessante pensar sobre um Ipod Shuffle: um aparelho eletrônico e, por isso, semi-artificial, que tem como função escolher aleatoriamanente a ordem das músicas que o sujeito vai ouvir. Maior simbiose entre homem e máquina impossível.
Escrevi o conto e mostrei pro Leandro
Romano, membro do grupo e um dos diretores da peça que pensou na
transposição da lógica shuffle para o teatro.
Qual o diferencial dessa peça e o que o público pode esperar da mesma?
Não sei se falaria em diferencial
porque praticamente tudo já foi feito em termos de arte. Mas o
bacana da peça é que o ator em cena atua de acordo com as música
que o Ipod Shuffle tocar. Ele opera o Ipod que escolhe músicas e
cada música representa uma cena. Assim, a peça se constrói e se
desconstrói a cada dia, uma vez que ela não possui uma ordem
definida previamente. Deixar a cargo do Ipod essa escolha submete o
ator e a plateia à uma ordem superior de comando, ao mesmo tempo que
passa uma ideia de impotência frente ao poder desse pequeno
aparelho.
De que maneira a peça pretende abordar a problemática do distanciamento causado pela 'excessiva' virtualização, onde o real se afasta cada vez mais ou é substituído pelos novos meios de comunicação?
Nesse caso respondo apenas por mim e
não pelo grupo. Acho que cada um deve ter uma visão diferente do
caso.
A verdade é que nessa pergunta fica no
ar um aspecto de demonização da tecnologia em prol de um “real”
e “verdadeiro”. Em Shuffle, o que se pretende não é criticar
nem elogiar a tecnologia, mas mostrar como ela é um meio que está
simbioticamente ligado ao homem. Não sei até que ponto a
virtualização é excessiva e também não sei se, caso seja, isso é
ruim. A forma como construímos nossa subjetividade é completamente
ligada à tecnologia, negar isso é ingenuidade e tentar se afastar
para um contato mais pretensamente verdadeiro também é uma fuga que
leva, novamente, a um caminho de virtualização de uma imagem que
fazemos do natural.
Shuffle mostra como um Ipod pode
manipular um homem que manipula um Ipod. Não se sabe quem manipula
quem e no fundo os dois são submetidos um ao outro, como se em algum
momento não houvesse qualquer diferença entre eles. Se isso é bom
ou ruim, não sei.
Até que ponto as tecnologias podem
influenciar ou modificar o comportamento das pessoas?
A tecnologia deve obrigatoriamente
influenciar e modificar a vida das pessoas. Tudo que existe modifica
e influência nossa subjetividade. De novo: se isso é bom ou ruim,
não sei. Cabe a pergunta.
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