21 novembro 2008
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Porta a dentro entrei no cinema, não tive que passar por nenhuma roleta porque ali não havia. Sentei na última fila na cadeira da ponta, quase que sem motivos, às vezes a ameaça pode não ser verdadeira, mas o medo sempre é real, é algo mais que químico, é traiçoeiro feito veneno. Sentei ali porque me sentia desprotegido para o que iria ver e sabia exatamente como sairia, além do mais, do fundo a tela ficava menor, o moço menor, tudo menor, talvez da altura máxima do que eu poderia suportar. Na vida, todas as coisas que me importam são rosas e são espinhos e eu com a mão direita, a que mais preciso, seguro em ambos de punho fechado e das pequenas chagas o pouco sangue se mistura com a coloração da flor. Já o moço não, ele não sangra. Ele é sagrado, porque já veio sangrado e por isso, nunca se mistura com nada na vida. Quem não sabe que ele não era capaz de ler, pode achar que ele passou pelo mundo a ler Kafka, mas ele não precisou, pelo contrário, experienciou na pele aquilo que era seu destino. E eu, ao fim do filme me levantei e saí rápido porque não me aguentava das pernas, fui ao banheiro, mijei, me olhei no espelho, ajeitei o cabelo e guardei o óculos, fui até uma pizzaria, sentei na mesa mais ao fundo que tinha, comi uma fatia, tomei uma coca e sozinho me dirigi até o ponto, onde peguei o ônibus para vir para casa.
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