05 novembro 2008

exercício dramatúrgico

HOMEM - Vem espremer o cravo grande das costas.

MULHER - Onde?

HOMEM - Aqui...

MULHER - Mas...mas...porque você não pede pra outra pessoa? Eu sou cega.

HOMEM - Porque eu só confio em você.

MULHER - Pra tudo?

HOMEM - Pra tudo.

MULHER - Então tem algo que eu preciso te contar.

HOMEM - Você me traiu?

MULHER - Com uma mulher.

HOMEM - Como você pode?

MULHER - Eu não sabia, eu conversava com um grupo de amigos, quando ela veio e me beijou.

HOMEM - Que dia? Quando isso?

MULHER - Aquele dia que você foi me visitar e foi embora por causa das nuvens.

HOMEM - Aquele dia do temporal? Então você sai de casa com esse toró, larga-se no cafundó dos judas atrás de uma cretina e ainda por cima, é capaz de me trair?

MULHER - Desculpa, desculpa. É que pra mim é tudo tão difícil.

HOMEM - Difícil é ser corno pra uma cega. Eu sou tipo muito mais corno que um corno comum.

MULHER - Você já me traiu?

HOMEM - Nunca. Não quero mais saber de você, não quero mais te ver.

MULHER - Nunca te vi.

HOMEM - Pelo menos você não viu o que fiz com minha barba.

MULHER - Você tirou?

HOMEM - Pintei.

MULHER - Está de que cor? Loira?

HOMEM - Aham.

MULHER - Que cor é loiro?

HOMEM - É claro, menos escuro.

MULHER - É mesmo. Então ela tá loira? Mesmo?

HOMEM - é mesmo, oxigenada mas loira...

MULHER - e como vai ser? Você vai mesmo embora.

HOMEM – Não sem antes você espremer o cravo grande das costas.


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