24 junho 2010

2:13

Leio um conto do Tchekov agora. Pela maneira que é escrito tenho a sensação de que nunca ninguém leu esse conto na vida: são muitas palavras, descrições e pensamentos. Parece literatura velha, cansada, mas não é. É só impressão.
Não tenho idéia do que quero escrever e não tenho idéia do que estou escrevendo. Às vezes algo me diz que preciso vir aqui e botar algumas palavras em sequência. Sigo a ordem sem refugar e vou deixando que tudo se faça. Como o mundo foi feito: primeiro a luz, o resto é mole. Porque era a luz que faltava, debaixo da luz somos capazes de ver e fazer tudo, enquanto que a escuridão nos oprime e nos mostra nossos erros.
Tenho vontade de ensinar as pessoas e me odeio por isso. Me sinto presunçoso, como se eu tal como sou, tivesse algo para ensinar a alguém. Eu que devia aprender, me digo, mas vejo que tanta gente precisa ouvir o que já aprendi. Por exemplo sobre Tchekov: seu realismo se rasgando, ele ultrapassando uma barreira que seria tão comum nno futuro, mas ver essa gênesis gera tanto prazer, alguma felicidade. Penso que sei o que estou lendo e sei porque estou lendo. É porque quem se enxega inteiro, não se enxerga. Quem sabe o que está fazendo é estúpido. O ideal é se deixar vagar pelo mundo, com o pensamento discordando de tudo que puder e depois criando outros castelos intransponíveis.
Queria tanto que alguém entendesse, mas a maioria das pessoas que lêem isso aqui esperam poesia, ninguém espera nada. Ninguém acha que um texto pode mudar sua vida, ou melhor, ninguém se deixa mudar por um texto, embora é óbvio que vão dizer que sim, que mudam. Talvez haja alguém sim, tenho essa esperança. Como se cada sessão de cinema servisse apenas pra uma pessoa. É meio solitário tudo isso, são 2:13 da manhã, escovei os dentes e interrompi Tchekov no meio.
O conto é sobre um seminarista que provavelmente se está enamorando, ainda não sei o resto. Tchekov talvez saiba. É tão difícil tentar dizer quando não se tem nada, porém acho que já disse alguma coisa, é que se fez a luz, por algum motivo creio que se fez. Acho que até pude ve-la. Será?

2 comentários:

Unknown disse...

Tchecov : nunca ouvi falar , então por esse lado achu que sim se fez a luz, porque se em algum momento eu ouvi falar de um tal Tchecov,( e ouvirei porque nada é em vão ) me lembrarei que foi no blog de um tal Luiz Ribeiro, que queria ensinar os outros e se odiava por isso, que vi o nome Tchecov pela primeira vez.

Ás vezes a escuridão toma conta da minha mente, ás vezes também preciso de luz e por breves momentos chego a me odiar porque sinto como se houvesse um livro na minha mente, sinto até a históra se desenrolar ... mas não consigo por nada no papel.

A história fica aqui dentro a me corroer em madrugadas como essa.

enfim,
té mais

Raisa disse...

Luiz, esse conto está na pasta do Leo?Acho que nunca li o Tchecov, apesar de gostar muito dos russos,em especial do Dostoiévski.Compartilho com vc esse sentimento de querer mostrar determinadas coisas a determinadas pessoas (creio que nem todas valem a pena, em última análise, por n motivos) e de encontrar pessoas que vejam as mesmas coisas, sintam as mesmas coisas, vejam a mesma graça, ou então que sejam capazes de mostrar graça em lugares/coisas/pessoas que não conheço. Por isso essa minha fuxicada no seu blog, que descubro hoje, às 2:18 da madruga,entre a preguiça de estudar linguística e a preguiça de fechar os olhos pra mais um dia de trabalho. Blog adicionado aos favoritos. :-)